por Pedro Paz*

A partir de estudo sobre espécies vegetais da caatinga que aparecem no cancioneiro popular brasileiro, sobretudo da região Nordeste, a professora pernambucana Daniele Mélo criou material didático-pedagógico no formato de jogo de tabuleiro do tipo trilha. O jogo, que recebeu o nome de Trilha na Caatinga, tem “casas” pré-marcadas como no xadrez, nas quais os jogadores encontram Códigos QR que os levam à página do blog Canções Botânicas, com informações específicas, músicas e vídeos sobre as espécies vegetais abordadas pelo material didático-pedagógico.

A pesquisa que se resultou no jogo de tabuleiro foi desenvolvida na Escola de Referência Methódio de Godoy Lima, em uma turma de Educação de Jovens e Adultos (EJA), nível Ensino Médio, na cidade de Serra Talhada, sertão pernambucano, onde Daniele é professora. Ela acredita que, por o estudo ter sido desenvolvido em uma turma do EJA, houve um maior engajamento nas atividades propostas.

“A maioria dos alunos possui idade um pouco mais avançada e são da zona Rural. Por isso, a troca de informações culturais acerca do tema se desenrolou mais facilmente. Houve vários momentos durante o estudo dos vegetais que eles puderam expressar suas lembranças de quando criança, associando-os a músicas e aos períodos festivos vivenciados por eles e por seus familiares”, relata a professora.

Daniele Mélo conta que, por fazer parte de uma região muito rica culturalmente, a vontade de aliar o ensino da Biologia ao cancioneiro popular sempre esteve latente. “A aceitação dos alunos do EJA de trabalhar com a linguagem musical sempre acontece, pois não deixa de ser um momento relaxante e descontraído”, observa.

A educadora avalia que, nos materiais didáticos tradicionalmente ofertados pelas escolas públicas sobre a caatinga, infelizmente, há informações básicas, muitas vezes superficiais sobre o bioma, o que sugere menosprezo e reprodução do estereótipo de pobreza na região.

“São materiais que quase nunca abordam a diversidade biológica e nem a sua potencialidade cultural. Sabemos que esse é o olhar de maior parte do país para com a nossa região. Essas impressões ficam evidentes nos meios de comunicação de massa e nas redes sociais digitais. Isso deve ser combatido por referenciais confiáveis e que são acessíveis a todas as classes sociais: os livros didáticos”, defende a professora. 

Daniele Mélo também considera que uma iniciativa como a sua deve utilizar músicas que façam parte do repertório dos estudantes, como preconiza a obra do educador e filósofo pernambucano Paulo Freire (1921 – 1997).

“Algumas delas não são tocadas nas rádios, mas são de artistas muito conhecidos nacionalmente, como Alcymar Monteiro, Flávio José, Alceu Valença e Geraldo Azevedo. Também trouxe para o meu trabalho artistas regionais como Paulo Matricó e Sebastião Dias, que são diretamente ligados à poesia local”, exemplifica. 

Egressa do curso de mestrado profissional em Biologia (ProfBio) na Universidade Federal da Paraíba (UFPB), o trabalho também culminou na sua dissertação, intitulada Botânica na escola: produção de materiais didático-pedagógicos visando a aprendizagem sobre a Caatinga em músicas populares.

Além do professor, pesquisador e orientador Rubens Teixeira, colaboraram no estudo os também professores e pesquisadores da UFPB, Rivete Lima – que revisou a proposta de pesquisa -, Fabíola Albuquerque, Maria de Fátima Camarotti, coordenadora do mestrado profissional, e Socorro Amaral, gestora da Gerência Regional de Educação do Sertão do Alto Pajeú.

O desenvolvimento do recurso didático culminou na conquista do 1º lugar do Prêmio Professores que Onspiram 2022, oferecido pela secretaria Estadual de Educação de Pernambuco. O projeto tem tido continuidade por meio de disciplina eletiva vivenciada pela 2ª série do Ensino Médio,na mesma escola.

Com o título Herbário escolar como atividade para auxiliar na recomposição das aprendizagens, a iniciativa foi inscrita na Mostra Nacional do Profbio, organizada pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pela coordenação nacional do Profbio.

Uma das alunas de Daniele Mélo, Maria Valéria de Melo Lima foi contemplada com uma das 55 bolsas de Iniciação Científica Jr (ICJr.). A bolsa de R$ 300 é creditada diretamente na conta bancária da estudante e terá duração de 12 meses. Entre suas atribuições, estão participação nas aulas e explicações e preparação de materiais diversos para que a vivência das atividades seja efetiva e eficiente.

*Pedro Paz é jornalista e doutorando em Antropologia pela UFPB 

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