Aos 99 anos, um homem tenta limpar seu nome e provar na Justiça que não era sócio do Grupo João Santos

Por Jeniffer Oliveira

As trocas de acusações e baixarias entre os herdeiros do Grupo João Santos, um império com dezenas de indústrias espalhadas pelo país, costumam viralizar nas redes sociais e tomam espaço nos veículos da mídia tradicional. Alheio a isso, um ex-funcionário do grupo que completa 99 anos nesta segunda-feira, 4 de março, luta para limpar seu nome em milhares de ações judiciais nas quais aparece injustamente como sendo herdeiro da fortuna da família para a qual trabalhou.

Francisco de Jesus Penha vem gastando tempo, energia e economia a provar sua inocência, já reconhecida na esfera criminal após ser retirado do processo que resultou, em maio de 2021 na Operação Background da Polícia Federal, e em outras ações de natureza trabalhista. Um dos seus principais objetivos é obter de volta o valor integral de seu aposentadoria, penhorada em 30% pela Justiça do Trabalho.

Ex-diretor do grupo, em 2018, o aposentado recebeu a notícia de que estava com todas as suas contas bancárias bloqueadas por ordem judicial. Isso porque tanto advogados trabalhistas e secretárias da Fazenda de estados e municípios que deixaram de receber os impostos devidos pelo Grupo, passaram a inclui-lo na lista de herdeiros e sócios das empresas.

“Minha revolta em relação a dr. Fernando e dr. José, que não só permitiram que eu fosse acusado injustamente em todos esses processos, como emitiram 300 procurações sem ciência e minha autorização, nunca usadas por mim, pois nunca tive poder para pagar no grupo”, afirmou. As procurações em questão foram um dos motivos para o idoso ser incluso na investigação, na qual chegou a ser apontado como funcionário de alto escalão.

Depois de realizar relatórios e mais relatórios indicando os riscos que o grupo corria, Francisco não imaginava que seria considerado como um dos participantes dos crimes fiscais, tributários e trabalhistas cometidos pelos verdadeiros herdeiros. Ao todo, ele chegou a responder, simultaneamente, a mais de 4.000 processos. Hoje, consome seus dias trabalhando, junto a sua advogada, para ser retirado de cada um deles.

Com emoção e com as suas aspirações poéticas, na sala de seu apartamento, ele afirma que “mesmo aos 99 anos, com a solidão que me foi imposta por quem eu trabalhei honestamente durante mais de 30 anos, seguirei lutando como um ‘quixoteano’, como Dom Quixote. Sonhando o sonho impossível, sofrendo a angustia implacável, pisando onde os bravos não ousam, reparando o mal irreparável”.

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