Quem atravessa a Avenida das Orquídeas nos fins de semana, em Jundiapeba, periferia de Mogi das Cruzes, na Grande São Paulo, vê dezenas de pipas colorindo o céu. O encontro de pipeiros costuma reunir uma multidão em um campo aberto de quase 100 mil metros quadrados.

O serralheiro Wagner da Silva, 48, foi um dos primeiros a começar a frequentar o local em 2018. Morador do bairro Jardim Universo, ele explica que o encontro já é uma tradição.

“Depois do expediente de trabalho eu volto pra casa e começo os preparativos. Faço minhas pipas e rabiolas e deixo tudo no jeito pra sábado e domingo. É uma forma saudável de me divertir”, relata.

Habilidoso, Wagner construiu a própria carretilha, carretel utilizado para enrolar e desenrolar a linha. Ele criou o dispositivo para não machucar os dedos na hora do combate.

Wagner da Silva construiu a própria carretilha, carretel utilizado para enrolar e desenrolar a linha @Renan Omura/ Agência Mural

“Aqui não tem regra. Tá no alto é pra cortar! Não podemos dar mole nem para as crianças. Quando você menos espera elas vêm e te cortam.”

No porta-malas e no banco de trás do carro, Wagner guarda caixas de papelão cheias de pipas que ele mesmo fez ao longo da semana. Assim, ao levar um rélo (quando a pipa é cortada), rapidamente pega outra e coloca no ar.

Wagner esclarece que não se trata de um evento, pois não há um organizador, horários ou datas pré-estabelecidas. Por isso, trata-se de um encontro.

‘O local é aberto. Geralmente, acontece aos sábados e domingos, e às vezes às sextas-feiras. O pessoal começa a chegar aos poucos, por volta das 10h, e vai enchendo. Na temporada de férias passa de cem pessoas fácil’

Wagner da Silva, morador do Jardim Universo

De acordo com Wagner, o extenso terreno que fica à margem da avenida das Orquídeas onde ocorre o encontro pertencia a um empresário de Mogi das Cruzes, já falecido. Com o tempo, os moradores locais passaram a ir no lugar para empinar pipa.

Jurandir Barros da Silva, 30, estudante de direito, frequenta o encontro há um ano e meio. Ele mora em Jundiapeba e costuma ir na reunião de pipeiros quase todos os sábados e domingos.

“Aqui, (no encontro) é mais seguro do que as ruas. Além de não ter postes de luz, também evitamos acidentes com os motociclistas”, comenta.

Jurandir Barros da Silva afirma que o encontro é um dos maiores de São Paulo e reúne pipeiros de diversas regiões @Renan Omura/ Agência Mural

De acordo com Jurandir, o encontro é um dos maiores de São Paulo e reúne pipeiros de diversas regiões. Ele conta que vêm pessoas de Guaianases, Itaquera, Ferraz de Vasconcelos e outros municípios.

De volta à infância

Para o autônomo Roger Silva de Paiva, 36, morador do bairro Vila Brasileira, em Mogi das Cruzes, o encontro é uma forma de resgatar a magia da infância. “Sinto que eu volto a ser criança”, diz. “Aliás, não só eu, se você olhar em volta, todos estão sorrindo e se divertindo. Você vê que todas essas pessoas voltam para a infância”, relata.

Roger ainda destaca que o encontro proporciona um momento de descontração e união entre as pessoas. Ele nunca testemunhou discussões ou brigas nas vezes em que esteve presente na reunião de pipeiros.

“Toda vez que eu venho para esse lugar, eu sinto que eu volto a ser criança”, diz Roger Silva @Renan Omura/ Agência Mural

Michael Clodoaldo da Silva, 38, tem uma loja de pipas em Jundiapeba. Sempre que está de folga, costuma ir ao encontro. Para ele, o evento é uma forma saudável de lazer e interação social, além de ser uma oportunidade para trocar experiências e aprender novas técnicas com outros entusiastas.

“Aqui as crianças se divertem, livres dos perigos da rua. Também é um momento divertido para nós que amamos soltar pipa”.

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