O rapper WGI, integrante do Consciência Humana, faleceu no domingo (23) em decorrência de um ataque cardíaco associado a uma pneumonia, segundo comunicado do grupo publicado no Instagram. O trecho do rap “Lembranças”, “espero que ele esteja com a paz que eu sempre sonhei”, traduz a saudade que toma o rap nacional e admiradores.

Sob o vulgo WGI, Gilson Oliveira foi integrante e fundador do grupo de rap Consciência Humana no bairro de São Mateus, na zona leste de São Paulo, no começo da década de 1990. Além do rapper, formam o grupo Preto Aplick e DJ Luiz Só Monstro (desde 2013, no lugar de DJ Andermad).

O conjunto ganhou destaque no cenário musical com letras em protesto contra a violência policial e à pobreza. Os maiores sucessos do grupo são “Lei da Periferia”, “Lembrança” e “Amigo de Infância” lançados no álbum “Entre a Adolescência e o Crime” de 2000.

Esta é a vida de muitos em São Mateus (Lei da periferia ó, quem diria?)

Esta é a vida de muitos em São Mateus

(Pequeno e pobre, humilde mais um bairro meu)

Esta é a vida de muitos em São Mateus (Lei da periferia ó, quem diria?)

Esta é a vida de muitos…

Trecho de Lei da Periferia

A idade do músico e o local de falecimento não foram informados. O sepultamento ocorreu no cemitério Nossa Senhora do Carmo, no bairro Parque das Nações, na cidade de Santo André, na Grande São Paulo, na segunda-feira (24). Nomes como Mano Brown e Preto Aplik estiveram no enterro. Nas redes sociais, músicos prestaram homenagens.

“O rap perdeu um dos maiores de todos os tempos e eu perdi um grande amigo. Nunca vou me esquecer das ideias trocadas por horas na galeria 24 de Maio, no começo de tudo”, publicou o rapper e ex-vocalista do grupo Facção Central, Eduardo Taddeo. “Foi uma honra ter dividido músicas e palcos com você. Descanse em paz, meu mano WGI”.

O músico e integrante do RZO, DJ Cia, escreveu: “Quebrado, sem palavras para escrever. Sinto uma tristeza rasgando o peito. WGI, sempre fomos parceiros, trocamos ideias além de nos tornarmos amigos. Sempre fui fã. Tínhamos uma música para terminar. Vá em paz”.

O amigo de WGI e articulador cultural do centro São Mateus em Movimento, Negotinho Rima, conheceu o músico nos anos 1990. Os dois se aproximaram por conta do envolvimento com o rap. WGI chegou a indicar músicas e artistas para que Negotinho Rima ampliasse o repertório.

“Eu pivete na quebrada vendo aquela rapaziada. Em 1995 comecei a cantar rap também”, relembra. “Ele me emprestava várias fitas para ouvir o que estava acontecendo. A partir dali tivemos uma relação boa. Abri vários shows do Consciência Humana.”

WGI fez uma participação especial na música Ação Contra o Estado, do grupo Rima Fatal, ao qual Negotinho faz parte. A lembrança que o articulador destaca são os momentos em que juntos ouviam música e escreviam letras de rap.

Negotinho Rima explica que WGI cresceu entre os bairros de São Mateus e Cidade Líder, também na zona leste. Em 2019, WGI lançou o seu primeiro álbum solo, “Você É Capaz”, em parceria com DJ Luiz Só Monstro. O DJ publicou em suas redes sociais que estava preparando o segundo álbum solo do artista.

Perda prematura

O assistente social e também articulador cultural, Danylo Paulo, diz que a perda de WGI é como a perda de um “herói”, pois o músico abriu caminhos no rap nacional que fizeram com que o estilo, até então marginalizado, fosse para além das periferias, mas sem deixar as raízes para trás.

“Quando ouvíamos Consciência Humana cantarem sobre São Mateus nos sentimos representados. Dá uma injeção de auto estima, de força de vontade e autoconfiança. Fora que sempre é satisfatório quando estamos em qualquer lugar do Brasil ou de são Paulo e falamos de onde viemos , na hora alguém fala do Consciência Humana”, destaca Danylo Paulo.

Danylo Paulo pontua como é necessário cuidar dos artistas periféricos neste momento em que as primeiras gerações dos anos 1980 e 1990 estão envelhecendo e começam a partir.

“Não existe um plano de aposentadoria ou de convênio médico que faça cuidados prévios para estes artistas que estão chegando em idade mais avançada”, diz.

‘Eles ficam reféns do que está por aí, certamente poderia ter sido evitado, com políticas públicas para nossos heróis do rap nacional. Acredito que temos que cuidar melhor dos nossos’

Agência Mural

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