A escolha do candidato a vice-prefeito de Olinda na chapa encabeçada pelo petista Vinícius Castello é um daqueles episódios da política difíceis de explicar e de entender. O PCdoB indicou o empresário Celso Muniz, dono de uma construtora e dos shoppings Patteo Olinda e Boa Vista, que foi candidato a prefeito em 2020 pelo MDB e que, desde 2018, vinha atuando politicamente em defesa do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).

Muniz foi apresentado por Castello em evento formal em um empresarial no bairro de Casa Caiada. Ele é recém-filiado ao PCdoB, para onde foi levado por articulação do deputado federal Renildo Calheiros, que era prefeito da cidade na época da construção do Patteo, no terreno onde havia o quartel da Polícia do Exército.

Castello defendeu a indicação com o argumento de que, “na diversidade, a gente consegue se entender”. Para ele, Celso Muniz “é uma pessoa relevante na mente da população em razão do espaço que ocupa como grande empresário. E a gente precisa ampliar o campo progressista e mostrar para o povo olindense que a gente vai conversar com todas as pessoas, desde a periferia até o meio empresarial. A gente dialoga com os diferentes”.

Para o candidato do PT, a composição com o empresário vem superar a “polarização absurda que existe no Brasil, pois a política não pode se pautar por antagonismo”.

Ao falar pela primeira vez como candidato ao lado de Castello, a quem se referiu como “amigo de muitos amigos meus”, Muniz, que se colocou como engenheiro e executor de obras, disse que vai “identificar quais setores empresariais será possível atrair para Olinda para gerar renda”. Ele também enfatizou que sua experiência como empresário “vai se juntar à juventude e à experiência de Vinícius de trazer o sentimento e as dores das pessoas da favela para fazer pontes”.

Renildo Calheiros não foi ao evento, mas o presidente municipal do PCdoB, Ossi Ferreira, afirmou que, além de Muniz, “vai vir mais gente para reconstruir Olinda”. Entre os dirigentes partidários presentes, uma frase foi repetida ao longo da cerimônia, que se transformou em breve entrevista coletiva: “a chapa furou a bolha da esquerda”.

Antivacina, defensor de armas e do voto impresso

Celso Muniz de Araújo Filho, de 56 anos, já foi filiado ao PT, passou pelo PSB, migrou para o MDB, mergulhou de cabeça no bolsonarismo, defendendo as bandeiras da extrema-direita até, pelo menos, maio de 2023. Agora, virou “comunista”, filiando-se ao PCdoB na esperança de, finalmente, obter uma vitória eleitoral.

Até as 14h30 desta quinta-feira (25), o perfil de Muniz no Instagram estava aberto, mostrando que a conta vinha sendo atualizada regularmente até maio de 2023, ora com postagens próprias ora replicando conteúdos de terceiros. À exceção de poucos posts referentes à sua atividade empresarial como empreiteiro e dono de shopping center, todas as outras são alinhadas ao combo completo da retórica bolsonarista.

Isso inclui negacionismo antivacina, ataques às medidas de isolamento social e ao comprovante de vacinação, elogios à política econômica de Paulo Guedes, defesa das armas de fogo e do chamado “voto auditável”. Até discurso de ódio contra o ator Leonardo DiCaprio o indicado pelo PCdoB reproduziu em suas redes sociais.

Poucas horas antes do anúncio do seu nome como candidato a vice-prefeito de Vinícius Castello, a imagem de seu perfil no WhatsApp ainda era um bandeira do Brasil.

A Marco Zero não encontrou nenhuma autocrítica ou revisão dos posicionamentos que assumiu. Também não foi possível localizar qualquer elogio ou referência positiva às políticas do governo Lula nem à atuação da sua nova correligionária no ministério da Ciência e Tecnologia, a ministra Luciana Santos, presidente nacional da legenda.

Em 2022, o empresário fez campanha pela reeleição de Bolsonaro e pelo candidato do PL em Pernambuco, o ex-prefeito de Jaboatão Anderson Ferreira. Antes, em 2020, em sua terceira aventura eleitoral, disputou a prefeitura de Olinda pelo MDB, ficando em terceiro lugar, com 11.694 votos, bem atrás do reeleito Professor Lupércio (PSD) e do deputado estadual João Paulo (PT).

Antes disso, em 2006, Muniz registrou seu nome na chapa de candidatos a deputado estadual do PSB, mas praticamente não fez campanha e obteve apenas 27 votos. Dois anos antes, filiado ao PT, legenda na qual filiou-se sob as bênçãos de Humberto Costa, então ministro da Saúde, ficou na suplência da Câmara de Vereadores do Recife, com pouco menos de 5 mil votos.

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