Elon Musk: Governo apreende 50 antenas Starlink em garimpos ilegais na terra Yanomami

Por Rubens Valente

Elon Musk: Governo apreende 50 antenas Starlink em garimpos ilegais na terra Yanomami

Antenas produzidas pela Starlink, a empresa de comunicação via satélite do bilionário sul-africano Elon Musk, se espalham pelos garimpos ilegais na Terra Indígena Yanomami, em Roraima, facilitando a atividade do crime organizado e dificultando as operações de repressão aos crimes ambientais. O governo federal já apreendeu, desde março, um total de 50 antenas em poder dos garimpeiros.

O número se refere apenas às apreensões registradas após o início das atividades da Casa de Governo, instalada pelo governo federal em março passado na cidade de Boa Vista como uma estratégia para coordenar e centralizar as ações contra a invasão do território. Em maio último, o Ibama divulgou ter apreendido, em todo o país, outras 32 antenas Starlink em garimpos ilegais do início de 2023 até março de 2024. Desse total, nove foram encontradas na terra Yanomami. 

Por que isso importa?

  • A Starlink detém dados preciosos que permitiriam identificar e localizar envolvidos no garimpo ilegal em terras indígenas, o que poderia facilitar as ações de combate na região.

No início do ano passado, o governo federal desencadeou operação contra o garimpo no território Yanomami junto com uma declaração, pelo Ministério da Saúde, de uma emergência sanitária.

“O Ibama fez muita apreensão, há um depósito cheio dessas antenas e outros utensílios apreendidos em 2023. Agora, a partir da instalação da Casa de Governo, temos um painel para centralizar as informações e sabemos que foram apreendidas 50 antenas desde março último”, disse, em entrevista à Agência Pública, o diretor da Casa de Governo, Nilton Luís Godoy Tubino.

A Pública indagou a razão pela qual as antenas são tão visadas pelo esquema do garimpo ilegal.

Antropóloga vê necessidade de mapeamento

A antropóloga e pesquisadora Flora Dutra, fundadora da startup Nave Global, participa de um projeto que já levou 24 antenas Starlink para comunidades indígenas em aldeias na Terra Indígena Vale do Javari e uma para a terra Yanomami. Os equipamentos foram doados pela norte-americana Allyson Reneau, que Dutra descreve como uma filantropa interessada em auxiliar nos sistemas de comunicação dos povos indígenas da Amazônia.

Para Dutra, se bem utilizadas, as antenas Starlink configuram uma alternativa positiva de comunicação em favor dos indígenas. Podem ajudar na própria fiscalização do território e em atividades de saúde e educação, por exemplo.

Dutra vê a necessidade de estabelecer um sistema de controle que permita identificar todas as antenas autorizadas pela própria comunidade indígena a operar dentro de uma terra indígena. Qualquer antena que fosse acionada no território e não aparecesse nos registros da comunidade automaticamente seria identificada como de um invasor. As informações seriam repassadas às autoridades competentes para fiscalização e investigação.

Dutra contou ter procurado a Starlink para iniciar um diálogo em torno de um projeto conjunto, mas não recebeu resposta.

“A gente está lutando para isso. Se a gente conseguir produzir protocolos integrados com a Starlink, se todos os pontos estiverem cadastrados nos sistemas dos próprios territórios indígenas, ficaria mais fácil mapear os que não estão.”

A Pública procurou o representante da Starlink no Brasil, mas não houve resposta a um pedido de contato por e-mail.