Prefeitura de Ipojuca se omite em conflito provocado por muro em Maracaípe

Por Jeniffer Oliveira

Prefeitura de Ipojuca se omite em conflito provocado por muro em Maracaípe

O ponto mais famoso para admirar o pôr do sol em Ipojuca, o Pontal de Maracaípe, é chão também de um conflito entre trabalhadores e a família Fragoso, a mais influente da região. O enfrentamento se desenvolve de forma mais intensa há dois anos, desde quando a Agência Estadual do Meio Ambiente (CPRH) emitiu autorização para a construção da barreira de troncos de coqueiro entrincheirados, que o Ibama constatou ter 576 metros de extensão.

Em meio às diferentes versões e narrativas, barraqueiros e o empresário João Vita concordam num único ponto: a omissão da gestão municipal no ordenamento urbano e do comércio popular num dos cartões postais do litoral sul pernambucano.

Esta é a terceira e última reportagem da série Por trás do muro de Maracaípe, que liga os pontos, reconstitui a linha do tempo e revela fatos e detalhes do caso ainda desconhecidos do grande público. A reportagem procurou, em mais de uma ocasião, a prefeitura para saber qual o projeto de disciplinamento do espaço público para aquele ponto da costa. No mês passado, a gestão da prefeita Célia Sales (PP) disse que “estava em diálogo com os trabalhadores”, sem citar o que já havia sido feito. Esta semana, a MZ enviou nova solicitação. A resposta, mais uma vez, foi evasiva. E, de novo, a prefeitura evitou citar nominalmente o empresário.

“Em nenhum momento, desde da implantação do muro de coqueiros por terceiros, foi negada aos comerciantes por parte do governo municipal a permanência de trabalhar na faixa de areia. Reforça ainda que já existe uma lei de regulamentação, para toda a orla do município, disciplinando a atividade dos barraqueiros e que eles podem levar os materiais de trabalho para comercializar pela manhã e retirar tudo ao final do expediente”. A lei a que a nota enviada pela assessoria da prefeitura se refere é, na verdade, um decreto municipal, de nº 485, de maio de 2018, que a reportagem publica abaixo.

Apesar do posicionamento da gestão, barraqueiros reclamam do que consideram ser a ausência do Poder Executivo municipal. “A prefeitura não está dando nenhum suporte. Pelo contrário, está se escondendo, fazendo de conta que não sabe de nada. E nós estamos de mãos atadas. Queremos resolver essa situação para melhorar para nós e para o nosso turismo”, afirma Ugleibson da Silva, 32 anos. Ele trabalha na praia desde jovem e é barraqueiro há quatro anos.

Assim como Ugleibson, são outros cerca de 20 barraqueiros que tiram o sustento de suas famílias a partir das vendas de bebidas e comidas à beira mar no pontal. Segundo eles, a construção e permanência da barreira e as placas que alertam para “evitar problemas”, porque o “muro e cercamento são autorizados judicialmente”, faz com que os turistas fiquem receosos de permanecer e consumir no local. “Está sendo muito prejudicial aqui pra gente. O turista vem, vê a placa, fica assustado e vai pra outra praia ou volta pro hotel. E nós acabamos afetados”, explica o barraqueiro.

Maré alta virou problema

A reportagem também conversou com Ana Paula. Ela trabalha como barraqueira no pontal há dez anos. “A gente vê que tudo que está acontecendo aqui é uma omissão grande da prefeitura. Se a prefeitura não quisesse que essa praia fosse fechada, ela também tinha que ter visto e ter vindo nessa área. Mas é uma prefeitura que está sentada. Nem discute a favor da gente, nem discute a favor deles”, afirma.

A realidade do negócio de Ana Paula mudou completamente. Desde que o muro foi construído, o movimento caiu em torno de 70%, calcula ela, por conta da dificuldade de acesso e do perigo de transitar durante as marés altas. Hoje, segundo os barraqueiros, só é possível chegar ao Pontal de Maracaípe pela faixa de areia quando a maré está baixa, por um pequeno acesso pela estrada do Pontal de Maracaípe ou pelo mangue. Nesse acesso, o trajeto costuma ser feito a pé ou de jangada.

“Quando a maré está seca, a gente consegue trabalhar. Mas quando a maré está cheia, ela ultrapassa esses coqueiros. Então carrega nossos guarda-sóis, nossas cadeiras e a gente não tem onde colocar. Já foi prometida uma estrutura de um local para a gente colocar nossas coisas, mas até agora nada foi feito pela a prefeitura”, reforça Ana.

Marco Zero Conteúdo.