Prestes a completar 31 anos de idade, João Henrique de Andrade Lima Campos quebrou uma marca que durava quase 70 anos se reeleger prefeito do Recife neste domingo com 78,11% dos votos válidos. Além de ter obtido uma das vitórias mais expressiva das capitais brasileiras, também se tornou o prefeito mais bem votado da história da capital pernambucana, superando Pelópidas da Silveira, eleito com 66% dos votos em 1955, na primeira vez em que uma eleição popular decidiu quem governaria a capital pernambucana. Pelópidas também era filiado ao PSB e muito próximo a Miguel Arraes de Alencar, bisavô de João Campos.

Os 725.721 votos que os recifenses deram ao prefeito reeleito refletem tanto uma estratégia de comunicação ancorada em sua própria desenvoltura nas redes sociais quanto o foco em obras e ações estratégicas, com visibilidade e impacto na vida da cidade. O aumento de vagas em creches, as novas calçadas, a criação de novos parques da zona norte e a construção da ponte que liga as zonas norte e oeste foram temas recorrentes na publicidade de Campos.

Com o resultado de hoje, é inevitável que o nome de João Campos passe a ser considerado como favorito para enfrentar a atual governadora Raquel Lyra na disputa pelo Palácio do Campo das Princesas em 2026. O contexto político, além do desempenho eleitoral, contribui para isso, afinal – ao menos em tese – ele reúne condições para unificar seu partido e as forças de centro-esquerda da cidade em torno de uma eventual candidatura ao Governo de Pernambuco. Não é por acaso que, na reta final de campanha, sua prima Marília Arraes, ex-adversária em 2020, passou a ser presença constante ao seu lado.

Os outros dois outros prefeitos reeleitos do Recife, João Paulo (PT) e Geraldo Julio (PSB), não foram alvo de tanta expectativa por viverem contextos políticos opostos ao de João Campos.

Quando o petista foi reeleito em 2004 no primeiro turno com 56% dos votos, já se sabia que sua tendência no PT não conseguiria se impor ao grupo majoritário comandando por Humberto Costa, que se candidatou e perdeu dois anos depois. Já o “socialista” sequer entrou nos debates do seu partido em 2020, desgastado por ter apoiado a guinada à direita do PSB ao apoiar o golpe contra Dilma Rousseff.

João Campos acompanhou a contagem dos votos no Hotel Luzeiros, no Pina, ao lado de familiares, amigos, políticos e equipe. Parte da equipe e apoiadores ficou no mezanino do hotel, na frente do auditório onde ele deu seu primeiro discurso após a reeleição – onde ficava um buffet com comida e open bar de cerveja Heineken e whisky Old Parr, ao som de jingles em ritmo de bregafunk e um telão com a apuração no Recife. Os mais chegados ficaram em um apartamento com o prefeito.

Logo após a imprensa deixar o hall do hotel e subir para o mezanino, um apoiador puxou um canto que citava Raquel Lyra (PSDB) e que João Campos estava chegando. A provocação teve apoio de dois ou três gatos pingados e logo foi abafada.

João Campos (PSB) só desceu perto das 20h. Foi recebido por cantos muito singelos – como o de “é o melhor prefeito do Brasil” -, sem se ouvir um pio de provocação à atual governadora.

No palco, estava ladeado pela mãe, Renata Campos, e o vice-eleito Victor Marques. Fez questão de abraçar Isabella de Roldão (PDT), a atual vice, e de agradecer a Geraldo Julio. Chegou a procurá-lo com os olhos pelo palco, mas o ex-prefeito do Recife não desceu para o mezzanino.

Discurso primeiro, entrevista depois

Um dos agradecimentos de João Campos na abertura de seu discurso foi simbólico para quem acredita que foi a presença nas redes sociais que determinou sua vitória: “gratidão a quem nos ajudou a chegar até aqui, a todo o nosso time da política. Montamos a maior frente política dessas eleições”. Pouco depois, a referência à chamada tradição revolucionária da cidade, algo que soa como música aos ouvidos dos históricos do seu partido: “A gente que nasceu no Recife, que cresce aqui, a gente sabe que Recife é uma terra irredenta, revolucionária, uma terra que gosta de questionar, de ter posição”.

Também não faltou o tom conciliador e moderado de quem precisa construir o próximo palanque. “Eu acho que essa eleição também dá esse recado de que em Recife não cabe ignorância, de que em Recife não cabe prepotência, não cabe ataques desmedidos. Eu não precisei falar um único dia nessa eleição o nome de nenhum adversário. Respeitei todos eles”.

Após o discurso, João Campos foi para um quebra-queixo (modelo de entrevista em que repórteres, fotógrafos e cinegrafistas cercam o entrevistado a pouca distância) com a imprensa. Reafirmou a gratidão aos recifenses, lembrou que superou Pelópidas Silveira como o mais votado – e que Pelópidas também era do PSB, afirmou que a próxima gestão “vai seguir batendo recordes de investimento” e que vai inaugurar mais parques, escolas e unidades de saúde. Afirmou que tem um “respeito infinito pela autonomia dos poderes” e que quer “harmonia entre eles, o trabalho conjunto, a proximidade” com o governo federal e estadual. Citou também a expressiva vitória do PSB na Câmara de Vereadores do Recife.

“Eu aprendi a fazer a política do fazer e a do juntar. Eu tenho posição, eu tenho lado, mas sobretudo o meu lado é juntar e unir o Recife. Eu não perdi meu tempo buscando divisão entre as pessoas, buscando briga, buscando monólogo, arenga, como meu pai dizia, eu gastei meu tempo para juntar o Recife”, afirmou.

Sem nem fazer sombra à oratória de Campos, Victor Marques (PCdoB) falou rapidamente com uma equipe de TV. Disse que teve a oportunidade de “contribuir nessa gestão de muitas maneiras ao lado do prefeito. E tenho certeza que na posição de vice, certamente, poderei contribuir aindamuitomais”.

2026 começa amanhã

Bem que o deputado estadual Sileno Guedes, talvez o principal articulador político do PSB, tentou não falar da próxima eleição, mas não se conteve. “Não estamos pensando nisso agora não, vamos passar o dia. Todo mundo está pensando. mas amanhã a gente pensa, hoje a gente vai comemorar a vitória do Recife”, comentou. “João Campos é o maior quadro, a maior liderança do PSB, ele não se consolida apenas como a liderança em Pernambuco, se consolida como a liderança nacional do partido”, afirmou o deputado.

Além de celebrar a vitória na eleição da majoritária na capital, Guedes festejou as 31 prefeituras que seu partido conquistou no interior de Pernambuco, além da bancada na Câmara Municipal do Recife: “jamais uma força política conseguiu fazer um partido político, conseguiu chegar a 40% da Câmara. É um número considerável e que a gente agradece ao eleitor recifense”.

Ex-desafeta e ex-adversária de João Campos, Marília Arraes se tornou uma presença constante ao lado do primo na reta final da campanha. Na comemoração, também marcou presença. E falou de 2026: “Eu acho que está cedo para fazer essa avaliação, a gente tem que esperar a poeira assentar e ver como é que vão ficar as peças do tabuleiro, a gente tem que observar a conjuntura política, o cenário de polarização ideológica, como é que o Governo do Estado vai se comportar, como é que vai ser daqui em diante o posicionamento dos prefeitos da região metropolitana e da Zona da Mata que é onde tem a maior concentração de votos, então tem muitos fatores que a gente precisa analisar para falar em 2026. Acho que no final de 2025 a gente vai ter mais ou menos um horizonte para enxergar”.

O presidente estadual do MDB, Raul Henry, foi mesmo pelo caminho retórico, cheio de arrodeios, mas sem deixar de mencionar o tema: “a gente ainda tem que apurar os votos de 2024. Acho que João, se quiser ser candidato a governador, é fortíssimo. A força que ele tem na Região Metropolitana é impressionante, mas acho que não é a hora pra isso. A política tem uma dinâmica muito grande e cada decisão tem que ser tomada na hora adequada”.

Não é a toa que, em seu discurso, João Campos deixou o recado: “agora que a gente vai começar a acelerar e a brincadeira está começando agora”.

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