A população da capital paulista reelegeu Ricardo Nunes (MDB) para a prefeitura com 59,35% dos votos. O resultado foi bem diferente do primeiro turno, quando a distribuição de votos ficou mais equilibrada nas zonas eleitorais, sobretudo nas periferias, entre os três mais bem colocados: Nunes, Guilherme Boulos (Psol) e Pablo Marçal.
Na etapa decisiva, Nunes acabou atraindo os eleitores de Marçal – e chegou a dobrar os votos em algumas regiões periféricas como Jabaquara, Cidade Ademar, Pedreira e Capela do Socorro, na zona sul, Nossa Senhora do Ó, Brasilândia e Casa Verde, na zona norte.
“Houve um cenário de voto ideologizado no primeiro turno, tensionado por Pablo Marçal. Já no segundo turno, Boulos demorou para fazer uma aproximação com esse candidato”, avalia o estrategista político Giuliano Salvarani, que é professor do Master em Comunicação Política e Sociedade da ESPM.
Além disso, na opinião do especialista, Boulos não conseguiu usar as redes sociais para ir além do centro expandido e falar com as periferias. “Isso fez com que ele não aparecesse como um candidato de base social”, avalia.
Boulos perde nas periferias
No primeiro turno, Nunes venceu em 17 zonas eleitorais e Boulos em 20. Já no segundo turno, Nunes acabou quase triplicando as zonas, enquanto Boulos caiu para apenas três: Bela Vista, na região central, e Piraporinha e Valo Velho, periferias da na zona sul.
Mesmo com o apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva – que venceu o pleito em 2022 na cidade – Boulos não puxou votos de Marçal em distritos tidos como redutos históricos do PT, como Itaquera e Cidade Tiradentes, na zona leste da capital paulista.
Além disso, não repetiu o feito de 2020 (primeira vez que saiu candidato à prefeitura de São Paulo) de manter a vitória em zonas eleitorais periféricas, como Capela do Socorro, Guaianazes, na zona leste. Naquele ano, ele disputou a prefeitura com Bruno Covas (PSDB) e não foi eleito.
“Boulos pode até ter ganho [em algumas periferias] no primeiro turno, mas foi uma vitória proporcional em relação aos demais. [O resultado do segundo turno] pode ser justificado pela sua rejeição e pelo impacto que Marçal teve [conquistando votos] entre os jovens de classe média baixa, pobres e das periferias”, avalia.
Por isso, na opinião dele, é preciso ajustar o discurso para esse público, que por vezes está alinhado com ideais mais radicais ou de enriquecimento e prosperidade individual – valores ligados ao candidato Pablo Marçal. Outra parcela dos moradores das periferias também rejeita Boulos, porque o identifica com um radicalismo de esquerda, invasor de terras e alguém que deve ser retirado da disputa.
“O Boulos de 2020 foi da mudança e da renovação. Esse Boulos de 2024 é um Boulos mais paz e amor, isso fez com que ele perdesse a espontaneidade e autenticidade. O povo de São Paulo não quer ver mais moderação”, avalia o professor. “Ele tenta repetir o perfil de Lula, ‘mas ele não é o Lula’”.
Como fica o cenário político na próxima gestão?
A reeleição de Nunes pode trazer novos desafios para a política municipal. Na opinião da vereadora Amanda Paschoal (PSOL) – mulher trans, periférica e uma das mais votadas de São Paulo – as disputas ideológicas na Câmara Municipal devem se acirrar.
“As periferias e todas as minorias da cidade terão uma perda grande, porque não existe compromisso com investimento em cultura, saúde e oportunidade de trabalho”. acredita a parlamentar. “Será um desafio maior para construir a oposição ao governo na Câmara, com o debate da extrema direita avançando dentro da Casa.”
O professor da ESPM concorda que a esquerda enfrentará dificuldades para legislar, mas acha sensível falar em perdas políticas e eleitorais, porque as periferias votaram e escolheram representantes de direita.
Agência Mural“É preciso voltar à base para saber o que a população quer de fato. Quem foi para a base e aprendeu a se comunicar com a população periférica foi a extrema direita. A eleição de Lula em 2026, está ameaçada sim”.
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