Seca dos rios no Amazonas pode afetar voto de mais de 120 mil eleitores

Por Matheus Santino

Seca dos rios no Amazonas pode afetar voto de mais de 120 mil eleitores

“Na eleição ninguém sabe como nós vamos chegar para votar. Esse é o maior problema, nós não sabemos. As autoridades competentes têm que tomar uma posição sobre nossas condições, porque está feio”, é o que diz o barqueiro Francisco Osório, 63 anos. Ele é morador da Ilha Marrecão, em Manacapuru, município próximo a Manaus, no Amazonas.

No estado, 120 mil eleitores em 37 municípios devem passar por dificuldades no dia das eleições municipais deste ano. Isso porque um monitoramento do Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE-AM) aponta que 263 locais de votação serão afetados pela estiagem recorde que atinge a região. Com rios secos e sem alternativas de transporte por terra, esses eleitores podem não conseguir se deslocar para votar. São 504 seções eleitorais nessa situação, de acordo com dados atualizados em 12 de setembro.

A situação é ainda mais crítica em 12 municípios, classificados pelo TRE em condições impeditivas. Neles, o local de votação possivelmente ficará isolado e deve exigir o uso de helicópteros. Quase 16 mil eleitores votam nessas áreas, que abrangem 35 locais de votação e 67 seções.

Monitoramento de Secas e Impactos no Brasil, do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) mostra que, no mês de agosto, o estado do Amazonas tinha quatro municípios em situação de seca extrema, 36 em severa e 22 em moderada. Segundo dados publicados em 3 de setembro, a previsão para o mês é de oito municípios com seca extrema, 42 com severa e 12 com moderada.

Segundo José Antônio Marengo, coordenador-geral de Pesquisa e Desenvolvimento do Cemaden, a seca que assola o Amazonas em 2024 é a mesma de 2023, e não uma nova. “No momento, podemos dizer que está mais grave do que o ano passado, porque, na verdade, esta seca de 2024 já tinha começado em 2023. Em 2023, os níveis dos rios caíram em setembro, choveu um pouco em janeiro, mas depois começou a cair novamente. Ou seja, a situação chuvosa de verão foi muito fraca e isso não compensou. Desta vez não está chovendo nada, e isso, combinado com altas temperaturas, está fazendo com que o nível dos rios esteja caindo muito, pior que no ano passado”, diz.

Marengo comenta que o esperado era que, terminando o fenômeno do El Niño, as chuvas voltariam ao normal, mas isso não aconteceu, levando à continuação da seca. Perguntado sobre as previsões para o final do ano e início de 2025, ele aponta para o perigo de mais um período de estiagem. “Não é outra seca, é a continuação da seca do ano passado. Se não chover em outubro, nós podemos ter continuação desta seca no verão de 2025, que é a nossa maior preocupação. Se não chove num momento certo, podemos ter uma repetição da situação atual, que já é ruim”, diz.

Segundo Marengo, pode acontecer de o fenômeno La Nina se intensificar, acompanhado de chuvas na Amazônia, mas ele acha difícil que sejam chuvas abundantes, capazes de molhar o solo. “Por enquanto há um desbalanço, ar seco, solo seco, altas temperaturas, falta de chuva, muita radiação solar, é o ideal para aumentar o risco de fogo e reduzir o nível dos rios”, completa.