Educação contra o crime, a lição de Gil do Vigor para salvar vidas

Por Maria Carolina Santos

Educação contra o crime, a lição de Gil do Vigor para salvar vidas

O Brasil tá lascado. O veredicto dado por Gil do Vigor no Big Brother Brasil de 2021 parece ainda válido, mas o próprio Gil aponta a solução. Desde que deixou o programa, o economista e doutorando da Universidade da Califórnia, em Davis (EUA), tem usado sua ampla influência militando pela educação. Entre publicidades para diversas marcas, aulas em universidades norte-americanas e europeias, participações em programas da Globo e uma rede social com mais de 14 milhões de seguidores, Gil ainda encontra tempo para ensinar matemática no YouTube e oferecer um aulão para o Enem, que teve neste domingo (20) sua segunda edição, no Centro de Convenções de Pernambuco.

“Como oriundo de escola pública, eu sei a dificuldade que é para um aluno de escola pública ter acesso à educação. Nesse momento do Enem, eu acho que além da qualidade da educação, é muito esse preparatório, esses aulões que fazem a diferença”, falou para jornalistas durante um intervalo do Aulão do Vigor. “A educação abre a nossa mente, a nossa visão. Como é que eu consigo ajudar e mudar? Esses jovens estão aqui porque eles sabem da dificuldade, mas sabem também do sonho que têm. Eles sabem onde querem chegar. Só que muitas vezes existem barreiras. A gente quer quebrar essas barreiras. Porque o Brasil ideal é o Brasil onde não existem essas barreiras, onde todos consigam começar a corrida do mesmo ponto de largada”, disse.

Pessoalmente, Gil do Vigor é tão simpático e tão articulado como na televisão e nas redes sociais. Os olhos dele chegam a brilhar quando fala sobre a importância da educação. O aulão do Vigor foi idealizado por ele, mas é a mãe, Jacira Santana, quem toma a frente da produção. “Acho que tudo o que a gente recebe, a gente tem que dar também. Se o universo trouxe algo de bom para nós, acho que é para a gente retribuir. Gil sempre foi persistente e ele sempre viu que é através da educação que as portas se abrem”, afirmou Jacira para a MZ.

Esta matéria é assinada por uma fã de longa data de Gil do Vigor. E quem acompanha o economista sabe que, desde sempre, ele deixou claro sua intenção de contribuir mais estreitamente com o desenvolvimento do Brasil. Já disse que está se preparando para assumir o Banco Central, já disse que quer ser ministro da Economia e até presidente do país.

Entre a galhofa e a seriedade, Gil do Vigor diz que fala sobre essas ambições porque é preciso ter objetivos na vida. Se – ou quando — virar presidente do Brasil, o economista já sabe por onde vai começar a mudar o país.

“Muita gente fala em criar escolas, mas eu acho que a escola é uma junção do edifício – obviamente muito preparado para receber os alunos –, mas também dos professores. Que tipo de motivação, incentivos, como é que se trata o professor? O professor é a base, é ele quem modifica, é ele quem faz com que a magia e a mágica aconteçam dentro das escolas e dentro do Brasil. A minha primeira medida seria criar um sistema de incentivo para a valorização do professor”, promete.

O objetivo da medida, continua Gil do Vigor, é de que em um futuro não tão distante – de 20 a 50 anos, calcula – o ensino público do Brasil seja tão competitivo quanto o privado. “O professor sendo valorizado vai ter incentivo para melhorar o seu ensino e isso vai afetar a qualidade do aluno também. Porque o professor motivado faz com que o aluno também se motive”, disse.

Para Gil do Vigor, o sistema de cotas para os egressos do ensino público é importante, mas deve ter um fim quando a disparidade entre o privado e o público acabar. “Nós precisamos tratar disso. A gente não quer depender mais de cota. A gente quer um ensino público forte, viril, firme, para que os nossos jovens do ensino público também consigam disputar de igual para igual. E acabar com essa lacuna que ainda existe na educação pública do nosso país”, afirmou, deixando clara sua defesa das cotas atualmente – e também para indígenas e negros.

“Eu fui muito ajudado por todos os programas sociais, Bolsa Família, tudo que tinha de programa social eu tava pegando. Foi uma diferença na minha vida. A gente sabe que é importante ter, mas a gente também precisa ter a visão de um Brasil em que a necessidade seja mínima. Porque é isso que a gente quer: acabar com a desigualdade. Para que todo jovem de ensino público ou privado consiga estudar, consiga ter oportunidades, consiga alcançar o sucesso, sem ter que bater tanto, sem ter que ser um caso em um milhão”, disse.

Gil do Vigor preferiu não dar uma opinião sobre as medidas econômicas do terceiro governo Lula, já que está focado no doutorado e não está acompanhando a política brasileira. “Eu gosto muito do nosso governo atual. O Brasil passou por um período muito complicado. Pelo menos o governo atual está levantando possibilidades, políticas públicas e está de fato conversando com a população. Eu acho que é importante manter esse canal aberto de debate. A possibilidade do diálogo é, para mim, a parte mais importante que a gente tem nesse governo”, disse.

Pesquisa nos EUA com foco no Brasil

Desde que saiu do BBB, entre um trabalho e outro, Gil segue firme no doutorado. A pesquisa para a tese dele é sobre o papel da educação na economia do crime. “Durante a minha pesquisa eu tenho visto que quando um jovem passa por uma medida socioeducativa, sai dela e decide retornar para escola, é 16% menos provável que ele seja vítima de um homicídio do que um jovem que sai da medida e não retorna para a escola”, afirmou. “A escola realmente salva vidas. Não só no sentido que a gente fala da educação, da transformação, mas também no sentido prático”.

O recorte da pesquisa de Gil é no estado de Pernambuco e recentemente ele fez uma visita de campo à Funase. “Eu queria trazer de uma maneira muito mais clara de que forma a educação salva. Eu estou trabalhando agora com os dados socioeducativos aqui de Pernambuco e é muito importante porque a gente consegue de fato verificar a importância da decisão do jovem de retornar ou não para a escola”, diz.

Na pesquisa, Gil viu que a idade em que o jovem está desistindo da escola é a mesma idade em que ele está entrando na medida socioeducativa e também está sendo assassinado.

“Infelizmente no nosso país a taxa de jovens sendo assassinados é muito alta, e eu começo a perguntar o que a gente faz para mudar isso? Em 2016 e 2017, a principal causa de morte entre jovens no Brasil foi homicídio. E esses assassinatos estão acontecendo justamente na idade em que os jovens saem da escola. Ou seja, eles saindo da escola, você vê que a taxa de homicídio daquele grupo aumenta, e aí existe uma correlação”, disse.

Na pesquisa que está fazendo, Gil espera encontrar a causa dessa correlação.

Outro ponto da pesquisa do economista é aprofundar como se dá a decisão de voltar para a escola após a medida socioeducativa. “Não é só mostrar o que acontece, mas qual é o mecanismo para que a gente consiga de fato proteger e salvar os jovens do nosso país”, afirmou. “Como é que o jovem reage quando ele tem um amigo que foi assassinado? Será que isso muda a percepção dele e faz com que ele entenda que o crime não compensa e que a educação de fato é um mecanismo que ele deve seguir para mudar de vida? E aí eu mostro que sim. Que muitas vezes o jovem não tem essa perspectiva muito clara e apurada do custo de fato do que ele está fazendo e do benefício que a educação traz para ele”, afirma.

Do Aulão do Vigor, Gil seguiu direto para o aeroporto, onde embarcou de volta para os Estados Unidos. Nos próximos meses seguirá como aluno na Universidade de Chicago, onde está animado com a disciplina de prevenção ao crime. “Na verdade, agora eu descobri que eu quero ensinar como prevenir o crime. É um curso em que a gente aprende como é que conseguimos garantir que o jovem não vá se envolver no crime. Eu queria pegar esse curso e fazer igualzinho no Brasil para que pesquisadores, economistas, criminalistas, educadores entendam o papel de cada um deles nesse combate. O jovem muitas vezes acaba se perdendo porque não tem alguém para chegar junto e conversar. E o crime é muito custoso para o Estado”, explica Gil.

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