Segundo turno em Olinda e Paulista vira ensaio para eleição de 2026

Por Raíssa Ebrahim

As disputas do 2º turno em Olinda e Paulista — as únicas de Pernambuco com eleição neste domingo (27) — se transformaram em prévia da eleição de 2026. O prefeito reeleito do Recife, João Campos (PSB), e a governadora de Pernambuco, Raquel Lyra (PSDB), foram protagonistas nos palanques das duas cidades.

Enfraquecida pelo resultado da eleição na capital, a governadora dedicou tempo de sua agenda para ocupar espaço na Região Metropolitana, ao ponto dela estar encerrando a campanha da sua aliada nesta sexta-feira. Mas, se ela pretende ter o PT em seu palanque daqui a dois anos, terá um cenário desafiador pela frente.

Com forte apoio de João Campos, Vinicius Castello (PT) “pegou pressão”, como diz a campanha em suas carreatas, e desponta como favorito em Olinda, com 54,46% das intenções de voto, segundo o Instituto Exatta Estratégia e Pesquisa em parceria com o Diario de Pernambuco. A candidata da governadora Raquel Lyra (PSDB), Mirella Almeida (PSD), apadrinhada pelo prefeito Lupércio Nascimento (PSD), tem 45,54%. João Campos também agradou aos petistas ajudando nas campanhas do partido em Natal e em Fortaleza.

Em Paulista, o embate entre João e Raquel se repete, porém com perspectivas mais favoráveis para a governadora, que apoia Severino Ramos, um político veterano também filiado ao PSDB, favorito para vencer o segundo turno. Vencer em Paulista seria estratégico, pois ajudaria a reduzir o peso do prefeito do Recife na Região Metropolitana, mas também teria um peso simbólico, pois o adversário de Ramos é o ex-prefeito Júnior Matuto (PSB), personagem bastante vinculado à família Campos.

Enquanto João Campos participou de carreata ao lado do candidato, que antes de entrar na política foi motorista de sua avó, Ana Arraes, seu irmão Pedro, deputado federal, gravou um vídeo pedindo votos para Matuto com o argumento de que os inquéritos da Polícia Federal que investigavam denúncias de irregularidades de sua gestão em Paulista acabaram sendo arquivados.

O apoio dos irmãos Campos parece não ter sido o bastante para reduzir a rejeição de Matuto junto aos eleitores. Em duas pesquisas, o aliado de Raquel Lyra lidera com folga. O instituto Veritá aponta Ramos com 59,8% das intenções de voto contra 28,4% de Matuto. Na pesquisa Exatta, a vantagem do tucano é ainda maior: 69,19% contra 30,81%.

“É interessante destacar que as pesquisas apontam para a vitória do aliado de cada um em cada um dos municípios em disputa. Para João Campos, a provável vitória do jovem petista Vinícius Castello será importantíssima na medida em que aliados de Raquel Lyra ganharam, por exemplo, em relevantes e densos colégios eleitorais e já no primeiro turno, como Jaboatão e Caruaru. E deve vencer em Paulista exatamente contra o candidato do partido do prefeito João Campos, o experiente Júnior Matuto, do PSB. Daí Campos ter se empenhado tanto para a ampliação do palanque do Vinícius Castello”, comenta o pesquisador e cientista político da Fundação Joaquim Nabuco Túlio Velho Barreto.

“É fato que João Campos apoiou o candidato vitorioso, já no primeiro turno, em Petrolina, o outro município em que poderia haver segundo turno. Portanto, vencer em Olinda e Paulista representará algo a mais na corrida para 2026 já que completam o conjunto dos maiores e mais influentes colégios eleitorais do Estado”, acrescenta.

Observando especificamente os segundos turnos nos dois municípios vizinhos ao Recife, Túlio acredita que Olinda sofre mais influência do resultado eleitoral da capital, o que tem se refletido no desempenho do candidato petista. Já em Paulista, na avaliação do pesquisador, o impacto mostra-se praticamente irrelevante, “basta que verifiquemos o fraco desempenho do Júnior Matuto apontado pelas pesquisas”.

“E não podemos deixar de destacar que os atuais prefeitos dos dois municípios ainda em disputa, Olinda e Paulista, são muito mal avaliados pelo eleitorado. Portanto, embora as disputas de segundos turnos ali estejam estadualizadas, parece ter tido um grande peso na decisão do eleitorado também a rejeição às gestões locais”, pondera.

PT e PSB: ora juntos, ora separados

A cientista política Priscila Lapa observa que, apesar de uma eleição ser preditora da arrumação das forças políticas para a eleição seguinte, é preciso considerar que as disputas municipais têm uma lógica diferente da estadual e da nacional, estas duas mais organizadoras da macroestruturação. “Isso porque os partidos podem estar ali, aliados na cena local ou por questão de conveniências locais, mas não estarem alinhados numa esfera maior”, explica.

“Se a gente pudesse ter uma lição de 2024 como preditor de 2026 é que o PT ficou na dependência do PSB. O PSB realmente consolidou o seu protagonismo e quem tem que correr atrás para se firmar como uma força ainda competitiva é o PT. E isso passa, de certa forma, por esses dois palanques agora de segundo turno”, analisa Priscila.

“O PT, parece ser óbvio, que vai rumar para fortalecer um projeto do PSB, para tentar formar uma frente com o PSB, mas há situações como a de Paulista, em que o PT descolou”, reflete. “E a gente sabe que isso pode ser também uma realidade para o estado. Já aconteceu outras vezes. Por isso a importância de a gente sempre monitorar os passos do PT e PSB, porque, quando eles estão juntos, a eleição toma um rumo. Quando eles estão separados, a eleição pode começar a ganhar outro rumo, outras sinalizações”, complementa Priscila.

Ela lembra que, em Pernambuco, as eleições estaduais, nos últimos 20 anos, passaram muito pela relação do PT com o PSB. “São dois atores que, de forma muito impressionante, decidiram alguns rumos das eleições no Estado, no Recife também, porque são partidos que ora estão juntos, numa correlação de ganha-ganha, ora estão separados porque têm outros interesses que os atravessam.

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