Ivan Moraes deixa a vereança, mas continua na política porque “mandato não é carreira, é missão”

Por Maria Carolina Santos

Quando teve início a campanha eleitoral deste ano, o vereador Ivan Moraes começou – e não parou mais – a escutar questionamentos sobre não se candidatar para mais uma reeleição. Uma pergunta em particular o irrita: “Você desistiu da política?”. Primeiro vereador a ser eleito pelo PSOL no Recife, em 2016, o jornalista e comunicador Ivan Moraes já havia anunciado que não se candidataria a mais que uma reeleição para um mesmo cargo.

A partir do dia primeiro de janeiro de 2025, ele deixa de ser vereador do Recife. O primeiro plano é descansar: vai para a Festa de Louro, em São José do Egito, e depois viajar por duas semanas com a filha que completa 18 anos.

Mas Ivan Moraes enfatiza que, apesar de não ter mais mandato, não vai abandonar a política, nem desistiu de participar de eleições.

“Quando foi que eu disse que eu desisti? Eu nunca desisti. Desistir é quando você tem uma intenção e você desiste. Eu determinei, eu planejei e eu estou seguindo. Estar em um mandato não é meu objetivo de vida. Meu objetivo de vida é mudar o mundo. É trazer justiça social, é a equidade de gênero, é fazer parte de lutas que para mim são importantes, que é lutar por uma nova lei de drogas, é lutar pela regulamentação da comunicação, das plataformas. Por que eu tenho que ver a política como uma carreira? É uma possibilidade, é uma missão que pode me ser dada a partir da vontade de um grupo. Eu não preciso estar o tempo todo em mandato, mas eu posso estar a qualquer momento em mandato ”, disse, em entrevista para a Marco Zero em uma cafeteria na zona norte.

Ivan Moraes afirma que escolher não se candidatar novamente a vereador tem a ver com a ideia de renovação da Câmara dos Vereadores. “O princípio de a gente não entender a política como uma carreira profissional. De se entender a política, ou a participação na política partidária, como uma missão. Se todo mundo fizer política um pouquinho, não precisa ninguém fazer isso a vida inteira. Não deveria ser uma carreira”, afirmou.

O que então era uma princípio, hoje, passados oito anos, virou uma certeza. “Eu acho que mais do que dois mandatos talvez possa ser muito bom para a pessoa que se elege. Mas para o projeto político – se for um projeto político de transformação – o terceiro mandato já não é o ideal. Eu acho que você tem aprendizados que são importantes, mas a roda precisa girar. Você não pode ficar muito acostumado. Não pode ser muito confortável para quem está nessas cadeiras. O que eu fiz foi cumprir o que eu falei. Eu sou esse político estranho que diz o que faz e faz o que diz”.

Para dar continuidade às propostas do mandato, Ivan Moraes apoiou duas candidaturas pelo PSOL, a da produtora cultural Carol Vergolino e a da enfermeira Nise, que trabalha no mandato dele. A primeira teve 4.907 votos; a segunda, 965 votos. Nenhuma foi eleita. Ivan não acredita que ter apoiado duas candidatas, e não apenas uma, tenha enfraquecido as campanhas. “Não sei se eu não consegui passar meus votos, porque se juntar os votos de Carol com os votos de Nise, dá quase os mesmos votos que eu tive em 2020 e não daria para ser eleito este ano. Mas eu não estou olhando para o ponto de vista da derrota. Eu fiz o meu. Estou fazendo”, ponderou.

Um manual para a vereança democrática e de esquerda

Ivan Moraes fez um mandato bastante atuante e propositivo e tem várias ideias para quando deixar a Câmara de Vereadores. Uma delas é a divulgação de um manual do que ele e a equipe de 18 pessoas do mandato aprenderam nesses oito anos na Câmara de Vereadores do Recife.

É uma sistematização da prática do mandato. “O meu mandato é um método que se desenvolveu ao longo de oito anos. Ele tem características que poderiam muito bem ser multiplicadas. É um mandato paritário de raça e de gênero na sua composição. É um mandato transparente, um mandato permeável, que atende a todos os grupos organizados da sociedade que lutam por direitos. Independente de se localizar ou não se localizar no nosso partido político”, afirma.

O documento vai trazer uma metodologia para vereadores e vereadoras de como as demandas entram, de como as demandas são tratadas e de como decisões são tomadas, levando em conta um mandato comprometido com a perspectiva de participação popular. Também vai falar sobre composição da equipe, sobre como se fiscaliza as prefeituras, como se faz a comunicação do mandato e das pautas e lutas que o mandato apoia, como se faz uma blitz e como se organiza uma audiência pública.

A ideia é principalmente ajudar pessoas em seus primeiros mandatos. “Para mim, entrar na Câmara como vereador foi um choque. Tem que gostar de gente e entender que você não está lá para falar só com os seus. A política é a arte de falar com o diferente, com o opositor, de tentar o consenso possível naquele lugar. Tem a hora do conflito, tem a hora de fazer pontes”, aconselha. “Dá para transformar a política? Dá para transformar a política. É fácil? Não. É muito difícil. Mas eu estou no jogo”.

A ideia de Ivan é lançar o manual no final do ano e, após férias em janeiro, percorrer o país divulgando o documento. “E vou continuar incidindo nos movimentos sociais, vou continuar prestando minhas consultorias para as organizações da sociedade civil e vou, com certeza absoluta, continuar produzindo comunicação, porque está no meu sangue. Eu já estou escrevendo projetos de audiovisual e estou planejando escrever livros. Tem muita coisa para fazer. Agora, eu vou continuar fazendo tudo o que eu sempre fiz. Porque eu sempre fui um sujeito político”, avisa.

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