O homem-bomba das Alagoas esteve no congresso nacional.
Murilo Sergio Jucá Nogueira Júnior, uma das maiores caixas-pretas da república e que tem suas digitais próximas a Arthur Lira (PP-AL), entrou no prédio da câmara dos deputados no dia 20 de julho de 2022, às 16h09 de uma quarta-feira. É o que mostram os documentos obtidos pela reportagem através da Lei de Acesso à Informação.
A LAI não informa o nome do autorizador da entrada do visitante. O destino informado pelo visitante na portaria foi a “secretaria da mulher”, no Anexo II da câmara mas não há como se certificar sobre a veracidade da informação concedida pelo policial para a segurança da casa. Dentro da câmara, é possível se transitar livremente entre todos os anexos, até mesmo os gabinetes, no anexo IV.
O policial civil, lotado na “Central de Flagrantes de Maceió”, maior delegacia daquele estado, teve sua proximidade com o presidente da câmara, já conhecida nos bastidores, oficialmente radiografada depois da “Operação Hefesto”, deflagrada pela polícia federal (PF) no último 1º de junho. Na ocasião, a PF apontou que Murilo Sergio Jucá recebeu R$ 550 mil de Edmundo Catunda, sócio da Megalic e aliado de Arthur Lira, empresa envolvida na compra superfaturada de kits de robótica com dinheiro do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação).
A investigação da PF apontou também que um dos carros para transportar dinheiro em espécie do esquema era de propriedade do policial. Os vínculos do policial civil e Arthur Lira não param por aí: de acordo com a PF, esse mesmo carro, uma Toyota Hilux preta, foi utilizado pelo deputado na campanha eleitoral em 2022. Uma doação para o atual presidente da câmara. Fato que pode ser verificado na prestação de contas eleitorais do presidente da câmara.
A “Operação Hefesto”, no cumprimento dos mandados de prisão e de busca e apreensão, encontrou ainda R$ 4,4 milhões em dinheiro vivo em cofre num endereço ligado a Murilo Sérgio Jucá.
O policial é um homem de bens.
Reportagem da Agência Sportlight de Jornalismo em 13 de junho último, mostrou que Murilo Sérgio Jucá possui, através de sete empresas identificadas em seu nome, um bilhão de reais em contratos espalhados Brasil afora entre governos estaduais, prefeituras e a união. E mais: recentemente, adquiriu fazenda com 1 milhão de metros quadrados, equivalentes a 100 hectares. Possui uma mansão em praia paradisíaca. E as sete empresas somam capital total de R$ 23 milhões.
Ainda assim, 12 dias do mês são dentro de uma delegacia da polícia civil, em um plantão de 24 horas que começa às 7h e só vai terminar no mesmo horário da manhã seguinte. Com adicional noturno, o salário bruto do homem de 1 bilhão chega a R$ 10.531,82. Em maio, o líquido ficou em R$ 7.629,72.
Em 2005, foi aberta a primeira das sete empresas que aparecem em seu nome e consegue os primeiros contratos com entres governamentais.
Vinte anos depois, coleciona contratos com diferentes esferas de governo. A maior parte desses contratos foi obtida nos último quatro anos.
É nas Alagoas que encontra maior campo para seus negócios. Com o governo daquele estado, nossa reportagem encontrou, através de fontes públicas, R$ 372.659.539,15 milhões (trezentos e setenta e dois milhões, seiscentos e cinquenta e nove mil, quinhentos e trinta e nove reais e quinze centavos). Uma parte através da Bra Serviços Administrativos, e a maior parte pela Reluzir Serviços Terceirizados. A imensa maioria dessa verba vem pela secretaria de saúde, via “fundo estadual de saúde”, em serviços de limpeza e conservação.
No governo federal, as empresas de Murilo Sérgio tem no total R$ 49.940.983.59 milhões, a maior parte entre a Bra Serviços e o MEC. Também podem ser encontrados acordos com a Reluzir e com a Ancol Anjos Engenharia.
O governo de Ibaneis Rocha, no Distrito Federal, tem sido pródigo em contratar os serviços de Murilo Sérgio Jucá Nogueira Júnior. Em seu mandato, encontramos R$ 346.630.561,16 milhões, todos através da BRA Serviços Administrativos.
E na prefeitura de Maceió, são R$ 80.942.377,34, via Bra Serviços. Entre 2022 e 2023.
Com o governo de Santa Catarina, embora a reportagem não tenha encontrado lançado o valor no portal da transparência, identificamos via diário oficial do estado ao menos um contrato de R$ 65.958.966,00 (sessenta e cinco milhões, novecentos e cinquenta e oito mil novecentos e sessenta e seis reais), com a Bra Serviços Administrativos, assinado em 19 de janeiro deste ano, e tendo como objeto a prestação de serviços continuados de limpeza, higienização e conservação de bens (móveis e imóveis), a serem executados nas dependências internas e externas dos prédios do Poder Judiciário daquele estado.
No total, somando governo federal, de Alagoas, do DF, Santa Catarina e prefeitura de Maceio, são R$ 916.132.427,24 milhões. Falar em um bilhão não é apenas arredondar esse montante. Outros contratos encontrados pela reportagem em diários oficiais não foram somados em sua totalidade porque não foi possível quantificar o total, já que não conseguimos via portais da transparência. Mas nesses diários, encontramos pelo menos contratos de Santa Catarina sem confirmação no portal sobre o montante, e ainda da “Disk Container” com o governo estadual de Alagoas, esses últimos verificáveis em contratos mas de soma total sem acesso no portal. Assim, com tantos outros, os R$ 916 milhões, já perto do 1 bilhão, podem ultrapassar a marca facilmente.
CONTRATOS DAS EMPRESAS EM NOME DE MURILO SÉRGIO JUCÁ COM DIFERENTES GOVERNOS:
COM O GOVERNO ESTADUAL DE ALAGOAS: R$ 372.659.539,15 milhões
COM O GOVERNO DO DF: R$ 346.630.561,16 milhões
COM ÓRGÃOS DO GOVERNO FEDERAL: R$ 49.940.983.59 milhões
COM A PREFEITURA DE MACEIO: R$ 80.942.377,34
COM O ESTADO DE SANTA CATARINA: R$ 65.958.966,00*
TOTAL: R$ 916.132.427,24 milhões*
SÓCIO DO POLICIAL EM EMPRESA DE ENGENHARIA ERA SERVIDOR DO ESTADO E FAZIA AVALIAÇÕES DO PREÇO DE TERRENOS PARA O GOVERNO
Entre as sete empresas de Murilo Sérgio Jucá, está a Ancol Anjos Engenharia Indústria e Comércio. Como sócio dele, está Davi Toledo Tenório de Amorim. Que até 23 de junho de 2022, era funcionário lotado como assessor especial da secretaria de estado do desenvolvimento econômico e turismo (SEDETUR), onde desempenhava, entre outras a função de avaliar para o governo o preço de terrenos. A reportagem questionou o governo do estado e também Davi Toledo, em seu contato pessoal, sobre um impedimento para alguém com sociedade em empresa de engenharia desempenhar tal função no governo do estado mas não obteve resposta de nenhum dos dois.
A FAZENDA DE UM MILHÃO DE METROS QUADRADOS NO CORAÇÃO DO ESTADO
Em 1º de setembro de 2021, o nome de Murilo Sérgio Jucá aparece como o de comprador de uma fazenda de um milhão de metros quadrados, equivalente a cem hectares. A multinacional Monsanto vendeu para o policial civil a propriedade onde realizava o melhoramento genético de cana de açúcar.
Exatos 945.745 metros quadrados de área de terreno, sendo 3.932m2 de área construída. Com uma recepção e vestiários na entrada, um escritório, um laboratório, 6 galpões, uma estufa, uma casa para almoxarifado e 28.39% do terreno ocupado por campos agrícolas.
A fazenda está em local privilegiado do estado, na rodovia AL-101, a 28 quilômetros do centro de Maceio, e entrada pela orla entre as praias de Jatiuca e Ponta Verde.
MANSÃO NA PRAIA COMPRADA EM 2022 ABAIXO DO VALOR TINHA PROPRIETÁRIOS LIGADOS AO PCC
Em fevereiro de 2022, Murilo Sérgio Jucá comprou uma mansão na praia de Barra de São Miguel, badalado balneário a 28 quilômetros de Maceio. A compra se deu através da Disk Conteiner. Em outubro, a PF realizou busca e apreensão no endereço à beira-mar e a justiça determinou o seqüestro do bem . A investigação demonstrou que o policial civil e empresário adquiriu o imóvel pagando valor muito abaixo do mercado junto a envolvidos com a organização criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC).
A mansão de Barra de São Miguel pertencia anteriormente a Erik da Silva Ferraz, filho de João Aparecido Ferraz Neto, o João Cabeludo, ambos do PCC. Foragido do sistema prisional de São Paulo, Erik Ferraz assumiu a identidade falsa de Bruno Augusto Ferreira Júnior em Maceio e passou a viver como rico empresário, adquirindo, em sociedade com familiares, diversos bens de luxo em Alagoas, como parte de esquema de lavagem de dinheiro. Além do capital proveniente do tráfico de drogas, Erik e o pai comandaram o conhecido episódio do assalto a um avião da TAM no aeroporto de São José dos Campos em 1996, quando R$ 6 milhões foram roubados. Em 2017, Erik foi morto em ação da polícia federal, a “Operação Duas Faces”, contra a quadrilha. Os bens seguiram com sua então companheira, Gabriela Terêncio, também apontada como parte da quadrilha e uma das responsáveis pela lavagem do dinheiro.
Em três depósitos realizados em fevereiro de 2022, nos dias 4,14 e 15, Murilo Sérgio Jucá efetuou o pagamento da mansão através da Disk Conteiner para um representante da organização criminosa.
OUTRO LADO:
Murilo Sérgio Jucá:
A reportagem enviou questões sobre o tema para o policial civil em diferentes formas, sem obter resposta.
Deputado Arthur Lira:
A reportagem enviou questões sobre o tema através da assessoria de imprensa do deputado mas não obteve respostas.
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