Aos 20 anos, Elisa Beatriz da Silva segue os passos dos pais com o trabalho no campo. Moradora do Sítio Gangorra, em Queimadas, município do interior da Paraíba, hoje ela cria 13 ovelhas da espécie morada nova, comum no semiárido por ser resistente ao clima da região, e três porcos que garantem a sua renda.
A criação iniciou quando a jovem tinha apenas 13 anos, através do Fundo Rotativo Solidário de pequenos animais, realizado pela organização não governamental AS-PTA e o Polo da Borborema, uma articulação de 13 sindicatos do semiárido paraibano. Assim como Elisa Beatriz, de 2015 até este ano, 576 jovens foram beneficiados com a dinâmica do FRS no território do Polo, sendo 285 mulheres e 291 homens.
Neste tipo de fundo, um adolescente filho ou filha de agricultores, é selecionado para receber uma fêmea e um reprodutor e, após a primeira ninhada, se houver uma filhote fêmea, o jovem repassa para o próximo da fila, já o reprodutor circula entre os jovens contemplados. Essa é uma das estratégias encontradas para garantir a sucessão rural, ou seja, a transferência da responsabilidade sobre os cuidados dos sítios e das pequenas fazendas para as novas gerações.
“Minha família sempre criou, mas eu não tinha muita experiência. Então depois de receber a primeira ovelhinha, a gente começou a frequentar reuniões, aprender como cuidar. E foi uma experiência maravilhosa, porque até hoje eu tenho e é minha renda”, ressalta a jovem.
Essa iniciativa parte do Núcleo de Juventudes que atua no polo há quase 15 anos, a partir da necessidade de organizar os jovens que participavam das Cirandas da Borborema, um projeto que aborda de forma lúdica discussões sobre o território e o pertencimento da agricultura, com crianças de aproximadamente 50 comunidades, de 11 das 13 cidades impactadas pela articulação.
Os profissionais identificaram que as transformações do crescimento traziam também a necessidade de uma nova abordagem. O pertencimento e a valorização agora partiam da demanda de conseguir também a própria renda, por isso, através de um processo de escuta e acompanhamento, passaram a atender as preocupações dos adolescentes e jovens.
Matheus Silva, articulador da AS-PTA, esteve no início do processo e, como jovem agricultor, entende bem as angústias dos colegas. “Esse fundo rotativo tem essa dinâmica para contemplar toda a demanda de jovens na comunidade. Ele vem para fortalecer a ligação que o jovem tem com a agricultura junto com os pais, para fortalecer esse elo”, afirma.
“O jovem ainda não é tão valorizado no trabalho junto com os seus pais, eles trabalham junto, mas o dinheiro não vai para o jovem, geralmente vai para a família, então essa dinâmica do fundo rotativo a gente tem que garantir que tudo que ele conseguir com a ovelha fique para ele”, reforça Matheus.
Os Fundos Rotativos Solidários (FRS) são diversos, cada um à sua maneira. Além dos animais, os agricultores também circulam fogões, abelhas, algodão, telas e outros insumos. A prática foi criada na Paraíba por volta dos anos 80, quando agricultores e agricultoras apoiados pelos voluntários católicos das Comunidades Eclesiais de Base juntavam dinheiro ou trocavam bens para resolver problemas urgentes.
Em junho deste ano, a Marco Zero publicou a série de reportagens “A Reinvenção do Nordeste”. Entre as histórias contadas, estiveram as soluções comunitárias lideradas pelas mulheres do município de Solânea, na Paraíba, que foram diretamente beneficiadas pelos fundos rotativos. A reportagem completa pode ser conferida abaixo: