“É um corpo que não é visto e não é tido como belo. Meu ponto de partida é fazer arte para que as pessoas possam se ver. É representar um corpo que é anulado, enquanto possibilidade de existência. Quero que as mulheres se sintam bonitas”, afirma Mariana Rosa, 29, cabeleireira, trancista e artista do Grajaú, no extremo-sul de São Paulo.
Em 2024, a artista lançou a sua primeira exposição intitulada “PARTES”, em que retratou recortes do corpo de mulheres negras e gordas. Os desenhos, com cores quentes e marcantes, mostram as mulheres de maneira delicada, afetuosa e confortáveis na própria pele.
Rosa reforça que corpos negros e gordos enfrentam anulações ao longo da vida e, por isso, estão em constante luta para manter sua autoestima.
“Somos tratadas como se fossemos pessoas fora do normal. Sempre tem aquele famoso ‘você é bonita de rosto’… O corpo negro e gordo é lindo e merece ser visto com toda a sua beleza”
Rosa decidiu que queria ser artista ainda criança, graças ao estímulo e apoio dos pais, Agostinha e Paulo Roberto. “Sempre tive contato com a arte dentro de casa. Crescer nesse espaço de poder escolher o que eu queria ser, já fez com que eu tivesse a percepção que poderia alcançar tudo que eu almejasse”, diz.
Em 2013, participou de um workshop no Bloco do Beco e teve seu primeiro contato com o grafite. Apesar de não se considerar uma “artista das ruas”, passou a pintar em diversos eventos. No ano de 2021, ela foi convidada a fazer um trabalho no CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) e teve a ideia de desenhar corpos de pessoas.
Primeira exposição
Aconteceu. O convite para a sua primeira exposição, que foi inaugurada em setembro de 2024, veio da produtora cultural Gaba Music, do Jabaquara, na zona sul de São Paulo. Foi através dessa oportunidade que a artista conseguiu se aprofundar em sua arte.
“Primeiro eu pensei em como gostaria do início, meio e fim da exposição. Geralmente os artistas primeiro criam as artes, para depois pensar nisso. Eu fiz o caminho contrário e foi bom. Consegui desenvolver com muita fluidez e com muito carinho. Teve noite que pintei cinco telas de uma vez só”, revela.
Uma delas, intitulada “Ninguém me vê”, foi baseada no primeiro rosto que desenhou: uma mulher negra, com traços indígenas e semblante tranquilo. Apesar das provocações com o título e pessoa retratada, a mensagem principal da obra está relacionada com uma característica da sua arte: dificilmente desenhar rostos.
As obras são feitas com tinta acrílica sob o MDF, material feito a partir de madeira. O rosa, o amarelo e o azul são cores sempre estão nas pinturas de Rosa e o tom das peles retratadas contém um pouco de vermelho, para lembrar as mulheres indígenas do Brasil.
Autoestima pelos cabelos
Além de artista, Rosa é fundadora e dona do Espaço Boombox, um salão de beleza especializado na estética negra e periférica.Criado em 2017, o local propõe que o autocuidado possa ser também um momento para desabafar, se divertir e falar sobre sonhos, vida financeira ou a vida amorosa.
“Eu sempre gostei de mexer com cabelo e é mágico o jeito que as pessoas entram a saem daqui. Às vezes a pessoa não está em um bom dia e é inspirador ter essa missão de embelezar mulheres e crianças. Elas saem daqui transformadas, como se não houvesse mais boletos para pagar [riso]”.
No momento, ela atende o salão sozinha de terça à sábado, das 10h às 19h. Um momento especial para Rosa foi quando o espaço serviu como um dos cenários do clipe “Você parece com vergonha”, da rapper de Paraisópolis, AJULIACOSTA.
“Para o futuro, quero ser mais artista. A arte é algo que preenche o meu coração, mas ainda é secundário, pois estou à frente de outras demandas. Vejo que a arte merece entrega e é algo a ser feito com tempo. Também tenho o desejo que o salão seja uma fonte de renda para outras pessoas, com cursos ou outras atividades”, conclui.
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