Mural celebra 14 anos debatendo sobre como criar rede de apoiadores para o jornalismo
A Agência Mural de Jornalismo das Periferias celebra 14 anos de existência, na vanguarda da comunicação nas, pelas e para as quebradas da Grande São Paulo, com a missão de ajudar a romper estereótipos, democratizar a comunicação e ampliar a voz das periferias.
Para marcar a data, a Mural disponibiliza o livro “Tijolo por Tijolo: a experiência de construir uma comunidade de apoiadores ao redor do jornalismo”, disponível para download gratuito. O lançamento oficial do ebook ocorreu em 9 de novembro, em um evento em parceria com a Rede Comuá e a Ação Educativa, realizado na sede da organização, no centro da capital paulista.
O livro é fruto de uma pesquisa realizada pelo diretor de negócios da Agência Mural, Anderson Menezes, durante o Programa Saberes. A iniciativa é promovida pela Rede Comuá, um espaço de fundos independentes que mobilizam recursos de fontes diversificadas para apoiar grupos que atuam com justiça social.
“Quando a Mural nasce, nós já éramos um coletivo. Tudo que fazíamos era em coletivo, muito antes de termos qualquer forma de financiamento ou apoio”, explicou Menezes, durante uma roda de conversa no evento, com integrantes de outros veículos independentes, entre eles a Revista AzMina, a Ponte Jornalismo, o Outras Palavras e a Periferia em Movimento.
O senso de comunidade foi essencial para conquistar apoiadores e fazer com que eles se sintam parte de uma comunidade que fortalece o jornalismo. Uma das principais conclusões da pesquisa foi que é necessário “começar a buscar seus apoiadores pelo simples, pela melhor plataforma para você”, afirmou Menezes.
O jornalismo independente e periférico tem o papel cidadão de criar espaços de representatividade. É central para a democracia que veículos de comunicação independentes sobrevivam e cresçam. “A mídia independente é muito importante para a democracia”, pontuou o editor do Outras Palavras, Rôney Rodrigues, no evento.
Papo sobre a grana
As organizações de jornalismo independentes “não estão acostumadas a falar de dinheiro”, como pontuou a analista de comunidades na Revista AzMina, Natali Carvalho. “Nos tempos da faculdade ninguém falava sobre dinheiro [pra gerir o nosso jornalismo] e isso era desesperador”.
Os participantes da mesa concordaram que é preciso pensar na rede de apoiadores como algo mais que simplesmente um aporte financeiro. “Eles são como nossos olhos: trazem dúvidas e nos contam o que acontece ao seu redor. É preciso fazer jornalismo com eles. É preciso também formar o nosso leitor”, disse a editora de relacionamento da Ponte Jornalismo, Jéssica Santos.
No projeto, o pix se tornou uma opção viável para buscar apoiadores. “Nós até fizemos um ‘Pix day’ inspiradas pela AzMina, que tinha feito algo parecido, Conseguimos muitas doações, porém no Pix não salvamos contatos, o que seria importante para fidelizar apoiadores”, pontua Jéssica.
O contato estreito com os apoiadores também é uma forma de educação midiática, que inclusive deve ocorrer para além do virtual, em encontros e eventos presenciais. “Nós trazemos exemplos e tentativas. [O contato com apoiadores] é feito de erros e acertos”, explicou Aline Rodrigues da Periferia em Movimento.
Conexão com a rede
Outra iniciativa também colocada em prática pelos veículos é buscar parcerias e criar redes de economia entre coletivos e instituições. “Nós fazemos sorteios, damos descontos em livrarias independentes. Tentamos beneficiar nossos apoiadores com essa rede de economia solidária”, explicou Rôney Rodrigues, do Outras Palavras.
Os participantes da roda de conversa pontuaram que para criar uma comunidade eficiente é preciso diversificar métodos de busca de apoiadores e de opções para contribuir com o jornalismo. É necessário entender a conjuntura nacional para se construir uma ponte sólida entre iniciativas jornalísticas e público apoiador.
“A realidade [financeira do brasileiro] tem que sempre ser levada em conta, as vezes 5 reais contam muito pro seu leitor”, exemplificou Rôney.
O trabalho com a rede de apoiadores, no entanto, deve ser contínuo e não apenas em momento de dificuldade. “Temos que imaginar o desconforto que seria para nossa realidade caso nosso jornalismo não existisse. Esse pensamento ajuda a imaginar formas de buscar recursos”, explica Rodrigues.
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