Os monitores são estudantes universitários. De acordo com a nota da secretaria, são hoje 65 monitores distribuídos no Museu e no Observatório do Alto da Sé, que fica no sítio histórico de Olinda.
A nota reconhece que os equipamentos “demandam cuidados frequentes para garantir seu bom funcionamento” e informa que em 2024 “foram investidos cerca de R$100 mil na manutenção do Museu para serviços que abrangem desde a conservação das exposições permanentes até os custos com limpeza, vigilância, e a manutenção preventiva das instalações elétricas e hidráulicas”. Pavão considera esse valor muito pouco – dá R$ 10 mil por mês.
Desde que foi exonerado, ele não voltou mais ao Espaço Ciência. “Não tive oportunidade de voltar. Mas eu vejo as pessoas falarem dos problemas. É um desafio montar um museu de ciências e é um desafio maior ainda mantê-lo. O museu de ciência é interativo: as pessoas mexem, tocam, pisam. Então, tem que ter uma manutenção muito eficaz”, diz.
Sem citar datas ou valores, a nota da Secti ainda afirma que a gestão estadual vem avaliando a viabilidade de um projeto de requalificação do Espaço Ciência, para a “modernização de diversos espaços e a atualização de várias exposições interativas”. Uma equipe contratada pela Secti já fez uma entrevista com Pavão. “É um equipamento que é uma conquista para a sociedade e precisa ser preservado e melhorado. Foi um lugar construído e mantido com muitas mãos. Quero muito que o Espaço Ciência continue cada vez melhor”, disse.
A estranha doação de mais de 8 mil metros quadrados
Há dois anos, no apagar das luzes do governo Paulo Câmara (PSB), o Espaço Ciência se viu ameaçado. A lei estadual nº 17.940/2022, que tramitou em caráter de urgência e foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe), prevê a doação de mais de 8,2 mil metros quadrados de área construída do museu para a instalação de um cabo submarino e um data center de uma empresa privada.
Em novembro daquele ano, o então diretor Ricardo Pavão recebeu com surpresa uma carta para desocupar o espaço – todo ele do lado recifense do Espaço Ciência, o menor lado, e onde fica uma réplica de um avião entre outros equipamentos. Pavão, então, lutou contra a mutilação do museu, procurando o Ministério Público de Pernambuco e a imprensa.
Várias movimentações foram feitas. O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) encaminhou um ofício ao Governo de Pernambuco alegando que quaisquer intervenções na localidade teriam que ser “precedidas de análise técnica e anuência da autarquia”, o que não havia ocorrido. Isso porque o museu se encontra no entorno da paisagem do Sítio Histórico de Olinda, que é Patrimônio Cultural Mundial, em um projeto paisagístico de Burle Marx. Ou seja, não pode haver construções que interfiram na visão do Sítio Histórico.
Já o Ministério Público de Contas de Pernambuco (MPCO-PE) pediu ao Tribunal de Contas do Estado de Pernambuco (TCE-PE) a suspensão da doação, alegando que o processo apresentava erros, falta de transparência e risco ao patrimônio.
A área doada tinha um valor avaliado em R$ 16 milhões e a análise do MPCO descobriu que as duas empresas beneficiárias da doação – Seacable Serviços de Telecom Ltda e Sea Datacenter Tratamento de Dados Ltda – tinham capital declarado na Receita Federal de apenas R$ 10 mil reais cada. Além disso, o endereço dado por elas como sede era inexistente.
Mesmo assim, as duas empresas – que depois foram representadas nos autos pelo consórcio Recife Datacenter Tratamento de Dados – prometiam um investimento de “mais de 300 milhões de reais para o Município do Recife, conforme divulgação oficial da Prefeitura do Recife à época”, dizia o MPCO.
Outro ponto questionado pelo MPCO foi que a área pertence à União e não foi ainda formalmente transferida para o Estado de Pernambuco, “a despeito da existência de negociação com a União desde 1994”. A doação também seria feita pela Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adepe), uma sociedade de economia mista, da administração indireta do Estado, vinculada à Secretaria de Desenvolvimento Econômico (SDEC). Na época, Geraldo Julio (PSB), ex-prefeito do Recife, estava à frente da pasta. Para o MPCO, seria uma forma de reduzir a transparência da doação.
No processo do TCE-PE, a empresa Recife Datacenter Tratamento de Dados teve como representante legal o empresário Yuri Costa Romão, atual presidente do Sport Club Recife. O outro sócio administrador da empresa é o empresário Halim Nagem Neto, também das lojas Nagem, e presidente da Associação Atitude, que tem como objetivo “influenciar o desenvolvimento de Pernambuco”.
Pouco tempo depois do pedido de suspensão do MPC-PE, em 15 de dezembro de 2022, o Governo do Estado publicou no Diário Oficial a suspensão das “medidas administrativas voltadas à execução da Lei Estadual nº 17.940/2022”. “Mas a lei não foi revogada. É preciso ainda ficar atento”, alerta Pavão.
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