Os 127 anos da Padaria Imperatriz apontam a resistência ao abandono da rua que leva o mesmo nome e do bairro da Boa Vista. As transformações do tempo indicam que apesar dos desafios encarados, a tradição mantém as lembranças dos tempos de glória em que grandes lojas funcionam no local.

O estabelecimento é o segundo CNPJ em funcionamento mais antigo da cidade. O entra e sai de clientes assegura que ainda é parada obrigatória para os recifenses que prezam pela preservação da memória, pela simpatia dos funcionários e pelo sabor dos produtos, marca registrada da padaria fundada em 1897.

“Somos uma referência. Até com clientes que são pernambucanos e frequentavam a padaria há muito tempo e moram fora do país, quando voltam a Recife, vêm aqui, falam com a gente por algum canal”, afirma Luiz Paulo Cabral, gerente da Imperatriz.

Com os olhos que acompanham o sorriso, a portuguesa Maria de Fátima Garcia, de 65 anos, é uma das funcionárias mais antigas da padaria. São quase 30 anos compartilhando as histórias afetivas do estabelecimento que marcou sua vida e a dos consumidores.

Quando começou a trabalhar na padaria, nos anos 90, a chapeira viveu o burburinho e a efervescência do centro do Recife. “Quando eu entrei aqui, isso aqui era lotado. As pessoas brigavam para sentar, porque era gente que só. Minha chapa ficava lotada. Eu era apaixonada por ver a minha chapa lotada de sanduíche”, relembra.

Mas essa é uma realidade que não faz mais parte da rua da Imperatriz, tampouco da Boa Vista. Hoje quem passa pela região quase não reconhece a rua vazia e o grande númro de lojas fechadas. “Antes da pandemia, o movimento já estava ficando um pouco fraco. Mas depois, muitas lojas não tiveram mais condições de reabrir”, afirma.

“Eu espero que o prefeito e a governadora olhem por essa cidade. Porque Recife é linda. Essa cidade é linda. E esses prédios são tão bonitos. Falta cuidar, não é? E eu espero que isso volte a ficar, não como antigamente, mas melhor um pouco”, almeja Fátima.

Estratégias para sobreviver

O impacto que o comércio local sofreu com a chegada da pandemia, das lojas online, o aumento da insegurança e os shopping centers para onde grandes lojas varejistas migraram são alguns dos motivos do esvaziamento da região.

O negócio de família está na sua quarta geração e, no auge do seu funcionamento, já recebeu personalidades como Luiz Gonzaga e Reginaldo Rossi. Anos atrás se formavam filas e a correria era grande para dar conta de toda a demanda.

Segundo o gerente Cabral, apesar dos desafios enfrentados com a falta de políticas públicas para o entorno, a qualidade continua a mesma de tempos de grande fluxo.

“Nunca nos mexemos para trabalhar com uma farinha inferior. A gente permanece trabalhando com os produtos que trabalhávamos há 10, 15, 20 anos atrás, quando aqui era uma referência”, afirma.

No entanto, alguns produtos deixaram de ser fabricados ao longo do tempo. Mesmo assim, os mais de 30 funcionários, entre produção e atendimento, ainda dão conta de um cardápio com centenas de itens., do inevitável pão francês até o pastel de Belém.

Hoje, as vendas acontecem no próprio estabelecimento e por telefone, das 7h às 18h30 durante a semana e, aos sábados, das 7h às 17h. As entregas feitas de bicicleta alcançam os bairros da Boa Vista, Santo Antônio, São José e Recife Antigo. E é assim que os clientes fieis e mais antigos aproveitam o serviço para continuar com a tradição.

“A resistência é por isso, é por uma história que foi desenhada com tanto carinho, com tanto zelo, e não é uma coisa simples. Existe um apego sentimental, um afeto de pessoas que buscam, mas a gente se reinventa todos os dias, não é fácil”, ressalta o gestor.

A internet também costuma ser aliada. Com um perfil no Instagram de poucos seguidores – 175 no momento em que este texto foi escrito – administrado por um funcionário, a padaria tenta também ter uma presença digital para atrair novos clientes.

Mas o desejo de Luiz Paulo é fortalecer ainda mais essa presença. ”De colocar conteúdos patrocinados com a história da padaria, provando que a gente continua aberto ainda, que a história não se apaga, que temos entrega. Entrar numa plataforma também, porque o cliente que realmente curte a história da padaria, vai ver que vale a pena”, afirma.

Prefeitura executa um trabalho ineficiente na região

Apesar das estratégias para resistir aos desafios de permanecer em funcionamento no centro do Recife, os proprietários da região enfrentam dificuldades para manter um diálogo realmente efetivo com as autoridades municipais.

Este ano, a padaria Imperatriz entrou na Rota Gastronômica do Recentro, com isso, ganhou uma placa e duas mesas em frente ao estabelecimento. O programa também incluiu em sua abrangência a praça Maciel Pinheiro que foi requalificada por quase R$ 500 mil reais, e o Pátio de Santa Cruz.

De acordo com Cabral, isso não é suficiente. Na prática para os lojistas, proprietários e consumidores pouca coisa mudou.

É verdade que, em 2024, houve dois eventos com a intenção de movimentar a rua da Imperatriz: um realizado pela gestão e outro organizado através de uma lei de incentivo. Ambos pontuais, sem desdobramentos permanentes.

<+>

A Prefeitura do Recife foi procurada pela Marco Zero para saber o quais as estratégias e políticas públicas que a gestão tem adotado para atrair mais pessoas para a rua da Imperatriz e para o bairro da Boa Vista, além de questionar a maneira o bairro da Boa Vista seria contemplado pelo Recentro. Mas, até o momento do fechamento desta reportagem, não tivemos resposta. O espaço continua aberto caso a gestão decida se pronunciar. 

O post 127 anos de tradição: como a padaria Imperatriz resiste no centro do Recife apareceu primeiro em Marco Zero Conteúdo.

Tags:
Direito à Cidade | Prefeitura do Recife campanha eleitoral Geraldo Julio João Paulo Daniel Coelho Priscila Krause Carlos Augusto TSE TRE | recentro | rua da imperatriz