Retrospectiva 2024: Contar o presente, olhar para o futuro

Por Redação

Retrospectiva 2024: Contar o presente, olhar para o futuro

Há dez anos, desde 2014, publicamos uma retrospectiva como esta para relembrar e registrar tudo o que a Agência Pública fez no ano. As dez retrospectivas anteriores mostram um jornalismo inovador e uma organização que cresce a cada ano, mas também fazem uma síntese do Brasil, sempre do ponto de vista da população e dos direitos humanos. 

Foi essa organização inovadora, que antecipa e discute grandes temas do país, que celebramos em nosso aniversário de 13 anos, em um evento realizado na PUC-SP, em março. Reunimos mais de mil leitores, apoiadores, amigos e convidados para debater o jornalismo na linha de frente da democracia, em três conversas ao longo do dia. Falamos de desinformação e populismo digital, em uma conversa mediada pela diretora-executiva da Pública, Natalia Viana, com a participação da antropóloga Letícia Cesarino e de Nina Santos, pesquisadora e professora da FGV.  Recebemos também as jornalistas Juliana Dal Piva e Fabiana Moraes para um debate sobre como cobrir o governo de maneira equilibrada, com mediação de nosso repórter Rubens Valente. Por fim, recebemos o ativista e escritor Ailton Krenak, o climatologista Carlos Nobre e a jornalista Daniela Chiaretti para uma conversa eletrizante que chamamos de Colapso Climático e Antropoceno, mediada pela chefe da cobertura socioambiental da Pública, Giovana Girardi.

Os temas que debatemos em nosso evento de aniversário estiveram presentes em nossa cobertura e em nossos projetos ao longo do ano. 

Em março, iniciamos nosso Programa de Formação de Repórteres Indígenas. Os participantes do programa, seis comunicadores indígenas de diferentes cantos do país, vieram até nossa redação em São Paulo para participar de oficinas de jornalismo. Depois, eles foram a campo para produzir suas reportagens, que revelam aspectos da luta de seus povos por terra, justiça e respeito às culturas tradicionais. 

No final de abril e início de maio, vimos as enchentes no Rio Grande do Sul devastarem parte do estado. Nossa equipe rapidamente se mobilizou para cobrir a tragédia, chamando-a pelo nome correto: crise climática. Investigamos ações do governo do Rio Grande do Sul, como as falhas nos sistemas de alertas reportadas por especialistas, o posicionamento de deputados em votações sobre crise climática, a desinformação durante o desastre e a atuação de grupos de direita, como a Brasil Paralelo, que nega a crise climática. Mostramos a dor da cidade de Muçum, que em maio era destruída pelas enchentes pela terceira vez em menos de um ano.

Voltamos a Muçum em setembro, às vésperas das eleições municipais. Nossa equipe foi atrás de saber como a cidade se preparava para o pleito, em um ano em que até o cemitério foi completamente destruído pelas enchentes. Foi sob o ponto de vista do clima que cobrimos as eleições de 2024, com a série Clima das Eleições. De norte a sul, investigamos os problemas das cidades sob a perspectiva das mudanças climáticas e como políticos se preparam para elas. No Climômetro, buscamos compreender o que candidatos à prefeitura de capitais brasileiras pensam das mudanças climáticas. Também percorremos um trecho da BR-163 chamado de “rota do agro”, entre Cuiabá (MT) a Santarém (PA), para mostrar como a crise climática é tratada nas eleições municipais da região.

Enquanto fazíamos nossa cobertura de eleições voltada para o clima, o país queimava e passava por ondas de calor. Foi pensando nessa intersecção inevitável entre a política e a crise do clima que lançamos nosso primeiro videocast, o “Bom dia, fim do mundo”. Feito em parceria com a TV PUC, o programa discute como os grandes acontecimentos da semana se relacionam com o clima: da morte do apresentador Silvio Santos ao plano golpista dos militares ligados a Jair Bolsonaro.

Em 2024, nossa sucursal em Brasília completou um ano, assim como a coluna de notas Entrelinhas do Poder. Outro fato que completou um ano em 2024 foi a censura imposta à reportagem da Pública pela Justiça a pedido do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL). A reportagem, que trazia um relato inédito de Jullyene Lins, ex-esposa de Lira, foi retirada do ar em setembro de 2023. Em janeiro deste ano, a Justiça determinou a retirada do ar de outras publicações que repercutiam a reportagem censurada. No início de abril, o colegiado da 6ª Turma Cível do TJDF decidiu por manter a censura. A defesa da Pública fez uma reclamação contra a censura ao STF, que foi indeferida por Alexandre de Moraes.

Em junho deste ano, após a aprovação da tramitação em regime de urgência do Projeto de Lei 1.904/24, que equipara o aborto legal de gestação acima de 22 semanas ao crime de homicídio, colocada em pauta por Arthur Lira sem aviso ou discussões prévias, a opinião pública reagiu nas redes sociais relembrando notícias divulgadas anteriormente a respeito de Lira. Passaram a circular novamente entrevistas antigas de Jullyene Lins. A defesa do deputado, então, peticionou na reclamação feita pela defesa da Pública ao STF para pedir a retirada do ar de diversos links, perfis no X (antigo Twitter), uma entrevista em vídeo de Jullyene Lins à Folha de S.Paulo em 2021, um vídeo da Mídia Ninja e notícias dos portais Terra e Brasil de Fato que repercutiam nossa reportagem.

O ministro Alexandre de Moraes inicialmente deferiu os pedidos da defesa de Arthur Lira, determinando a retirada das publicações do ar. No entanto, poucos dias depois, o ministro voltou atrás e liberou a publicação dos conteúdos da Folha de S.Paulo, Terra e Brasil de Fato. A reportagem da Pública segue censurada. 

Apesar desse revés, seguimos fazendo reportagens de impacto, como a que revelou que o presidente interino da Caixa Asset, braço de gestão de fundos de investimento da Caixa Econômica Federal, Heitor Souza Cunha, mantinha uma empresa com o ex-assessor de Arthur Lira que foi pivô do escândalo dos kits de robótica. Após a publicação, Cunha foi destituído do cargo. Nossa série de reportagens sobre os amigos de Ricardo Nunes que teriam sido beneficiados em contratos e decisões da prefeitura de São Paulo motivou representações de parlamentares ao Ministério Público.

Ao longo do ano, não deixamos de lado nossas investigações sobre atores da direita e suas tentativas de abalar a democracia. Revelamos a articulação feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) com parlamentares dos Estados Unidos para convencê-los de que o Brasil vive uma ditadura e impor punições ao país. Por conta da reportagem, o PSOL pediu ao STF que incluísse os deputados federais Eduardo Bolsonaro e Gustavo Gayer (PL-GO) no inquérito que investiga os atos de 8 de janeiro. 

Mostramos também que um dos principais executivos da produtora de direita Brasil Paralelo, foi um dos criadores do 55chan, fórum de discussões online com postagens que incluíam pornografia infantil e antissemitismo. Revelamos também um curso ligado à Brasil Paralelo e aprovado pelo MEC, dedicado a formar professores de história. O conteúdo produzido por ela propala ideias conservadoras, negacionistas e de desrespeito a minorias.  

Investigações como essas são fundamentais para lembrar que precisamos seguir lutando pela democracia e contra a desinformação. Principalmente quando, em breve, teremos Donald Trump de volta à presidência dos Estados Unidos, com o homem mais rico do mundo com um cargo em seu governo. 

E, por falar em Elon Musk, investigamos seus negócios no Brasil com o apoio de nossos Aliados, acompanhamos com atenção sua briga com Alexandre de Moraes e desafio às leis brasileiras, que levaram à suspensão da rede social, e também decidimos finalmente deixar de usar o X (antigo Twitter) após 13 anos. Para nós que temos, desde 2018, coberto a propagação de desinformação aliada a discursos golpistas que visam destruir a nossa democracia, o uso da plataforma por Elon Musk para promover uma visão de mundo extremista e antidemocrática é alarmante.

Saímos do X, mas não faltam plataformas nem projetos investigativos inovadores para nossos leitores acompanharem. 2024 foi um ano de grandes projetos. Lançamos nosso podcast totalmente financiado pelos leitores sobre a rede de exploração sexual que teria sido mantida por Samuel Klein, fundador da Casas Bahia, história que investigamos há quatro anos. Publicamos uma investigação feita durante um ano sobre políticos com antepassados que teriam sido ligados à escravidão. Revelamos que um programa de vigilância do Ministério da Justiça tem mais de 55 mil usuários que podem monitorar pessoas sem justificativa. Você verá detalhes desses e de outros projetos que fizemos ao longo do ano ao longo desta página. 

Em 2025, seguiremos investigando, como sempre. Teremos mais projetos inovadores, reportagens corajosas, contaremos grandes histórias em podcasts. Vamos cobrir a 30ª Conferência do Clima da ONU, que em 2025 será realizada em Belém do Pará. Vamos refletir ainda mais sobre o papel do jornalismo no mundo hoje e sua importância para manter a democracia fortalecida. 

Nos vemos em 2025.

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