O operador logístico Alan Valerio, 40, trabalha em Embu das Artes, na Grande São Paulo, e pega diariamente o ônibus 02 (Jardim Tomé – Jardim Batista). Desde o fim do ano passado, fazer o trajeto com o transporte público ficou R$ 1,30 mais caro. A tarifa para as linhas municipais saiu de R$ 4 para R$ 5,30.
Valerio acha um absurdo ter que pagar um preço mais alto, pois o ônibus não tem possibilidades de integração e o tempo de espera é irregular. “Quando o ônibus passa, o motorista não espera. Assim como já fiquei mais de uma hora no ponto, já cheguei a voltar a pé do serviço por não ter ônibus.”
Localizada na região sudoeste da Grande São Paulo, Embu foi apenas uma das mais de 20 cidades que aumentou o preço da tarifa municipal. A alta na cidade foi a maior entre elas – 32%. Por outro lado, há ao menos seis cidades onde andar de ônibus chegou a R$ 6. A liderança é de Poá, onde desde o meio de 2024 a tarifa está R$ 6,30, acima do preço do dólar que após altas chegou a R$ 6,10 neste começo de ano.
O valor chama atenção para cidades que têm menos de 200 mil habitantes e que estão cobrando tarifas acima do que é visto em boa parte das capitais do Brasil. Apenas três capitais de estado cobram R$ 6 – Florianópolis (SC), Porto Velho (RO) e Curitiba (PR).
Chegaram ao valor de R$ 6, por exemplo, as cidades de Embu-Guaçu, município com apenas 67 mil habitantes. Ferraz de Vasconcelos e Suzano, no Alto Tietê, e Mauá e Ribeirão Pires, no ABC Paulista, completam a lista de quem chegou seis moedas de R$ 1 para uma viagem.
Os dados foram levantados pela Agência Mural com base no anúncio feito pelas gestões municipais, no acompanhamento de correspondentes que vivem nessas cidades e também do portal Diário do Transporte, especializado na cobertura de mobilidade urbana.
Grande parte das prefeituras anunciaram o reajuste no final do ano passado, ou depois das eleições. A única exceção foi Poá, que antes mesmo da corrida eleitoral, havia se tornado a tarifa mais cara da região metropolitana. Lá, no entanto, a ex-prefeita Marcia Bin não concorreu à reeleição.
Nas demais, gestores que estavam na disputa ou que tinham apoiado nomes para a sucessão deixaram a discussão para o fim do ano. Foi o caso de São Paulo.
Após congelar a tarifa desde 2020, o preço subiu para R$ 5 – R$ 0,60 a mais. As críticas sobre o aumento levaram até a protestos no começo do ano. Hoje, há 21 cidades na região metropolitana que cobram acima da capital, além do impacto com o reajuste do trem, metrô (R$ 5,20) e dos ônibus intermunicipais.
Algumas dessas cidades oferecem tarifas menores, caso haja o uso do cartão. É o caso de Osasco, onde quem utiliza o cartão paga R$ 5,30 em vez dos R$ 5,80.
“O objetivo é evitar o colapso do sistema e preservar o equilíbrio financeiro das prefeituras, que não possuem condições de subsidiar os custos operacionais das empresas concessionárias.”, afirmou em nota o Cioeste (Consórcio Intermunicipal da Região Oeste Metropolitana) ao anunciar a alta de Osasco e outras quatro cidades: Itapevi, Jandira, Barueri e Carapicuíba.
Em Embu, além da alta, moradores da cidade também estão lidando com o fim da gratuidade aos fins de semana e feriados, que haviam sido adotados pelo município desde dezembro de 2023.
A publicitária Caroline Salla, 34, trabalha na cidade de São Paulo e utilizava o ônibus 06 (Jardim Mimás – Jardim Pinheirinho) para ir ao supermercado aos sábados. Para ela, a mudança repentina foi um susto.
‘Qualquer aumento é um impacto para quem não tem dinheiro, mas quando é R$ 0,20, R$ 0,30 centavos, dá pra entender que tem a ver com repasse anual. Agora R$ 1,30 é um golpe muito duro’
Caroline, moradora de Embu das Artes
Para a social media Lucy Davyes, 28, a situação é ainda pior. A prestadora de serviço tem uma agência de marketing e precisa arcar com todas as despesas diretamente. “O aumento afeta todos os meus gastos mensais. Se tenho entregas ou preciso atender clientes presencialmente, tenho gastos a mais.”
A Secretaria de Mobilidade Urbana de Embu das Artes afirma que o reajuste na tarifa foi necessário devido ao aumento expressivo nos custos operacionais do transporte coletivo, como combustíveis e manutenção de frota.
De acordo com o órgão, o congelamento do valor em R$ 4 desde 2019 acumulou defasagens que comprometem a sustentabilidade do serviço.
Lucy Davyes mora no bairro Ressaca, no limite entre os municípios Embu das Artes, Itapecerica da Serra e Cotia, e utiliza o ônibus 05 (Ressaca/Caputera – Centro). Ela conta que o transporte sai superlotado pois costuma quebrar nos horários de pico, e que não é enviado outro no mesmo horário para seguir o trajeto.
A Secretaria de Mobilidade Urbana respondeu aos questionamentos sobre a superlotação e o tempo de espera. O órgão público diz que estão reavaliando as linhas e horários de maior demanda, com o objetivo de redistribuir a frota e reduzir os intervalos entre os ônibus. O processo gradativo de renovação da frota já foi iniciado.
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