Roraima: indígenas venezuelanos são assassinados em abrigo desativado da Operação Acolhida

Por Rafael Custódio

Roraima: indígenas venezuelanos são assassinados em abrigo desativado da Operação Acolhida

“Eu te amo muito, papai. Não me deixe aqui”, suplicava aos prantos, ao lado do caixão, um dos filhos de Yerffersson de Jesus Montilla Matos, de 39 anos. O indígena venezuelano, da etnia Warao, foi assassinado a tiros ao lado da esposa, Myiela Perez Cardona, de 34 anos, em 8 de janeiro, no abrigo desativado da Operação Acolhida chamado de Pintolândia, em Boa Vista, capital de Roraima. Cardona também foi atingida e faleceu no hospital.

As famílias se preparavam para dormir quando um homem armado entrou no abrigo e foi até o barraco de lona onde vivia o casal e seus sete filhos e disparou contra Matos e Cardona. Um bebê, de quatro meses, filho do casal, também foi atingido na mão e segue internado no Hospital da Criança de Boa Vista, mas sem risco de morte. 

O assassino do casal indígena deixou sete crianças e adolescentes órfãos, que hoje estão sob a tutela da avó materna.

Segundo a Agência Pública apurou, sete dias após o assassinato, o boletim de ocorrência do caso ainda não foi despachado para nenhuma das equipes de investigação do Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) de Roraima. O despacho é um ato importante para direcionar a condução da apuração do caso. Questionada, a diretora da repartição, delegada Miriam Di Manso, disse à Pública que diligências estão em curso e o “despacho é mera formalidade”. 

Por que isso importa?

  • A Operação Acolhida, que recebeu cerca de 1 milhão de pessoas, é a maior operação de migrantes da história recente do Brasil.

O caso está sob investigação pela Delegacia Geral de Homicídios (DGH) de Roraima, departamento subordinado ao DHPP, de responsabilidade do delegado João Luiz Evangelista Batista dos Santos, que disse por meio de nota à Pública que “diligências estão em andamento para identificar os autores do crime, a motivação e as circunstâncias”. Leia aqui a nota na íntegra.

“Todo mundo com medo, preocupado, desesperado e assustado”, disse o indígena Pablo (fictício), de 40 anos, morador do abrigo, cuja identidade não será divulgada em decorrência do receio de que o atirador volte. 

As famílias que vivem no abrigo Pintolândia precisam enfrentar também fome, desnutrição e moradias precárias. Segundo os indígenas, ninguém havia assistido a um episódio de violência semelhante a esse desde a sua inauguração, em dezembro de 2016, antes mesmo do início da Operação Acolhida. 

Leia a nota na íntegra.

O Ministério da Defesa, pasta que supervisiona a Operação Acolhida, disse, por telefone, que o abrigo Pintolândia não é mais de responsabilidade da operação.