“Sabe uma colcha de retalhos que a gente começa fazendo de pedacinho e, de repente, está bem grandona? Pronto, isso aqui é uma pequena colcha de retalho que nós levantamos. Nos apoiando uma na outra”, comparação feita por Aldenize Maria da Silva, de 51 anos, sobre a horta popular e agroecológica Saber Viver, localizada na comunidade da Fazendinha, em Boa Viagem.
A horta comunitária é uma das cinco acompanhadas pela Escola Marias, a primeira escola de agricultura urbana para mulheres da periferia, iniciativa do Centro Sabiá com parceria do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e a Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE).
Aluna da segunda turma, Aldenize foi instigada pela amiga Vera Lúcia para se inscrever no projeto e viu sua vida ganhar um novo sentido. À época, a dona de casa enfrentava uma depressão, mas o conhecimento e a prática na horta têm a ajudado a conviver com seus desafios internos. “Você se sente bem quando começa a entender o verde. Então é isso, a minha vida mudou muito […] E a gente não só tem comida, como a gente tem uma farmácia viva aqui”, conta.
Estruturada com base nos conceitos e práticas da agroecologia, a horta tem de tudo: desde plantas medicinais como boldo, menta, capim santo, erva cidreira, até frutas, legumes e tubérculos.
Vera Lúcia de Barros, de 54 anos, começou estimulada pela participação do filho, Robson, que é uma pessoa com deficiência. Também integrante da segunda turma, ela entrou depois do filho porque se apaixonou pelo trabalho desenvolvido. Depois, passou a incentivar outras amigas a participar. “Isso aqui é para o resto da vida. A gente tem que procurar tratar, plantar, cuidar direto mesmo, independente de qualquer coisa. Onde eu estou, eu já estou procurando alguma muda ou semente pra trazer pra horta. E onde eu chego, só falo da nossa horta”, comenta.
O local que é motivo de orgulho para as alunas passou anos abandonado pelo poder público. Situado entre o canal de Setúbal e o túnel Augusto Lucena, recebeu a primeira intervenção quando a Prefeitura do Recife construiu uma quadra e um espaço de convivência. Contudo, ainda havia um espaço não utilizado, e foi ali que uma representante do MTST enxergou o potencial de transformar aquele solo improdutivo.
Recém iniciada na terceira turma da Escola, Danielly Felix, de 33 anos, coordenadora da ocupação 8 de março do MTST, enxerga a importância de mulheres estarem unidas plantando e colhendo o próprio alimento. “Para mim está sendo uma honra por ser uma mulher negra, principalmente uma mulher trans, estar no meio dessas mulheres na horta comunitária”, afirma. “Eu acho que é muito importante você poder bater no peito e dizer: eu fiz um curso de agroecologia”, completa Danielly.