Amarelada, branca, marrom e com cheiro ruim. Essas são as condições da água que chega ou não às torneiras dos moradores do Jardim São Luís, na zona sul de São Paulo, nos últimos meses.

Segundo moradores, desde a privatização dos serviços da Sabesp, em julho de 2024, a realidade ficou mais complicada para quem depende da água para atividades essenciais do dia a dia.

As queixas sobre a qualidade e a falta desse recurso tão necessário, especialmente em períodos de ondas de calor que atingem com mais força as regiões periféricas, se tornaram um grande problema em uma das áreas mais populosas de São Paulo.

A instrumentadora cirúrgica Elisabete Mendes, 54, tem enfrentado a situação há alguns meses. Quando a água volta, chega em péssimas condições.

“A água, quando chega, vem com um cheiro forte e escura. E quando não vem assim, tem um cloro insuportável.”

Elisabete, tem problemas diários com a falta de água @Daniel Santana/Agência Mural

Ela também destaca que os períodos sem abastecimento são frequentes e longos, chegando a durar mais de 18 horas com as torneiras completamente secas.

A situação é parecida com a relatada por Francisca Silva, 69. Segundo ela, além da falta d’água, há um sentimento de descaso por parte da Sabesp em relação ao retorno do abastecimento.

“A gente liga pra Sabesp, e eles dão um prazo que normalmente não se cumpre. Parece que dizem qualquer horário só pra gente não ligar de novo.”

De acordo com dados da Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo), entre as dez cidades com mais reclamações sobre os serviços da Sabesp em fevereiro, oito estão na região metropolitana.

As reclamações mais frequentes envolvem os valores das tarifas, a descontinuidade no abastecimento e dificuldades na ligação de água nas residências.

Nos últimos seis meses, o número de registros aumentou, com uma variação de mais de 16% entre janeiro e fevereiro de 2025.

A Mural tentou buscar mais informações sobre as reclamações com a própria Sabesp, mas não fomos respondidos. Por meio da LAI (Lei de Acesso à Informação) também ainda não obtivemos respostas.

Os relógios de água seguem registrando os dados de consumo, mesmo sem ter uma gota de água nas torneiras @Daniel Santana/Agência Mural

Outro problema relatado pelos moradores é a presença de vento nas torneiras durante os períodos sem abastecimento. Mesmo sem água, os hidrômetros continuam girando como se houvesse consumo.

“O reloginho gira desesperadamente. É uma situação complicada, né? Porque, querendo ou não, estamos pagando vento. Estamos pagando o ar que eles mandam primeiro”, afirma Elisabete.

A dona de casa Luísa Muller da Silva, 76, diz que o desabastecimento já virou rotina e uma dor de cabeça constante.

Segundo ela, há um possível “descaso” da empresa com as regiões periféricas, tanto no abastecimento quanto em obras e manutenções.

‘Sempre aqui na periferia é duas, três vezes pior. Quando estoura alguma coisa, demoram pra arrumar e toda aquela água limpa é desperdiçada. E quando vêm, não fazem o serviço direito’

Luísa Muller, dona de casa

Os comércios locais também sofrem com a situação. Cícero Amaro Bezerra da Silva, 64, conhecido como “Pernambuco”, tem um restaurante há mais de dez anos na Rua João Fernandes Camisa Nova Jr.

A falta de água tem impactado diretamente o funcionamento do local, essencialmente na preparação dos alimentos e na limpeza.

O comerciante Cícero, sofre com o desabastecimento da água e tem prejudicado o funcionamento do restaurante @Daniel Santana/Agência Mural

“Todo dia falta água nos últimos meses. E aos sábados, que é dia de maior movimento, acaba mais cedo. Tem dia que nem dá quatro da tarde e já estamos sem água.”

Pernambuco também critica a privatização da Sabesp, alegando que não houve nenhuma melhora significativa para a população das periferias.

“Antes, quando faltava, era porque iam fazer manutenção. Eles avisavam. Agora falta direto, sem aviso nenhum.”

O que diz a Sabesp?

Em nota, a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo afirmou que o abastecimento nas ruas citadas pela reportagem está “normal”, de acordo com vistoria técnica realizada em 31 de março.

A empresa acrescenta que “está ciente da necessidade de melhorias no sistema da região e, por isso, está investindo ainda mais em obras.”

Sobre a coloração da água, a Sabesp destaca que houve uma “variação climática pontual e natural” na represa Guarapiranga, o que pode ter ocasionado a mudança temporária na coloração. A empresa afirma que essa água não apresenta nenhum risco à saúde.

Já a Arsesp informou que fiscalizações estão sendo realizadas e um relatório está em elaboração. Caso sejam encontradas irregularidades, serão tomadas as medidas cabíveis.

Agência Mural

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