É hora da merenda na escola rural do Sítio Campos Novos, zona rural de Cumaru. Por alguns minutos, os 14 alunos deixam a sala de aula climatizada e seguem para o refeitório junto à cozinha, onde uma refeição com galinha guisada, macarrão e feijão-mulatinho acaba de ficar pronta.
Três meninos, no entanto, recusam o que é servido, preferindo lanchar aquilo que trouxeram numa bolsa: sódio, gordura e açúcar em forma de salgadinhos industrializados em pacotes coloridos e suco ou achocolatado de caixinha.
Em Cumaru, a comida servida na escola é a merenda propriamente dita. O que os meninos levam de casa é chamado de lanche.
A princípio, a coordenadora da escola e as nutricionistas da secretaria municipal de Educação ficaram sem jeito, afinal a equipe da Marco Zero estava ali na manhã daquela terça-feira de dezembro para conhecer e fotografar a merenda saudável da rede municipal de ensino de Cumaru.
Pouco depois, mais à vontade, a coordenadora Edla da Silva Souza, de 36 anos, explica que a maior resistência à mudança dos hábitos alimentares vem das próprias famílias dos estudantes que, ironicamente, são agricultores: no início deste ano fizemos oficinas com as mães, conversamos com os alunos sobre os problemas de saúde provocados pelos alimentos ultraprocessados, porém ainda há quem ceda à facilidade de colocar na lancheira um saco de salgadinho comprado no atacarejo.
Coincidência ou não, nenhum morador de Campos Novos fornece alimentos para o PNAE. De acordo com a agroecóloga do Centro Sabiá, Íris Maria da Silva, isso faz muita diferença, pois as famílias que vendem para o PNAE acabam se envolvendo mais com o que filhos e netos comem na escola.
Formada em Agroecologia pela Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), Íris tem bastante experiência na assessoria técnica à agricultura familiar, afinal, enquanto fazia seu curso superior, ela já trabalhava como técnica agrícola na ONG Caatinga, no sertão do Araripe, uma das instituições pioneiras nessa área em Pernambuco.
Com tanta bagagem, ela acredita que não basta implantar a política pública e garantir o acesso à política pública, é necessário oferecer formação para o público beneficiado por essa mesma política pública. No caso de Cumaru, além das merendeiras terem sido capacitadas para lidar com os ingredientes saudáveis, o Centro Sabiá atuou diretamente junto a centenas de famílias, mas a resistência de algumas mães e pais exige mais tempo para ser superada.