No último verão, entre o final de 2024 e início de 2025, a favela de Paraisópolis registrou temperaturas de superfícies - como telhados, ruas e solo - de até 45°C. Enquanto isso, no Morumbi, bairro vizinho considerado de alto padrão econômico, foram registradas médias em torno de 30°C.
Os pesquisadores utilizaram dados de 19 imagens termais de um satélite de observação da Terra, referentes ao período de dezembro de 2024 a fevereiro de 2025. As imagens medem a temperatura das superfícies, portanto, os valores obtidos são mais altos do que a temperatura do ar.
Pesquisador do Cefavela, Victor Fernandez Nascimento afirmou que 30 °C já é um valor absurdamente alto. Nessa temperatura, aumenta em 50% os riscos de problemas de saúde, principalmente para aquelas pessoas que são mais vulneráveis, como bebês, idosos e [portadores de] alguns tipos de doenças, disse.
Além desses aspectos biológicos, um dos fatores que influencia bastante [na vulnerabilidade ao calor] são os aspectos sociais. Normalmente as regiões mais pobres do município de São Paulo são aquelas mais vulneráveis a sofrer com as os efeitos de ondas e ilhas de calor. Isso leva a vários problemas, como aumento do número de infartos, acrescentou o pesquisador.
Ele explicou que os problemas de saúde causados pelas ondas e ilhas de calor são chamados silent killers ou assassinos silenciosos. Morrem no Brasil hoje 21 vezes mais pessoas por doenças causadas por aumento da temperatura e ilhas de calor do que por desastres como o deslizamento de terra, alertou.
Desigualdades
Condições como a morfologia do terreno e a disposição de estruturas pela cidade influenciam diretamente as diferenças nas temperaturas entre territórios tão próximos. Esse fator [morfológico] é fortemente explicado pela falta ou abundância de vegetação nos bairros. Quanto mais arborizado o bairro for, mais amena costuma ser a temperatura, mencionou Nascimento.
O intenso adensamento nas favelas é um elemento que também impacta nas temperaturas mais altas, registradas pelo estudo. Em Heliópolis, outra favela paulistana entre as mais populosas, os registros ficaram acima de 44 °C nos dias mais quentes.
Os pesquisadores destacam que é importante sensibilizar a sociedade para o fato de que o calor não se trata apenas de um fenômeno meteorológico, mas resultado também do planejamento territorial. Para diminuir o impacto das altas temperaturas na cidade, Nascimento avalia que seria necessário uma combinação de ações em diferentes escalas.
Podemos pensar, por exemplo, na escala da cidade, atualizando a questão do plano diretor, favorecendo a arborização urbana, construções de jardins de chuva, melhorar a drenagem como um todo, disse.
Considerando as áreas de assentamentos e favelas, a mitigação de danos inclui aumentar a quantidade de jardins coletivos e hortas urbanas, além de melhorar a questão da ventilação cruzada. Como são construções muito adensadas, uma grudada na outra, aquela ventilação cruzada que traria um pouquinho mais de frescor, acaba não acontecendo, o que aumenta ainda mais o desconforto térmico dentro das residências, apontou.
Tags:
Calor | Cefavela | clima | mudança climática | São Paulo | UFAB