por Jorge Cavalcanti*
A um ano e meio das eleições de 2024 no Recife, hoje a única certeza que está consolidada é a candidatura à reeleição do prefeito João Campos (PSB). Todos os demais nomes que são aferidos em pesquisas precisam ainda viabilizar condições e contextos. O prefeito protagonizou as inserções partidárias veiculadas na TV no Dia do Trabalhador(a), 1º de maio, no esforço mais visível para renovar o mandato. Há outros, porém, em curso. Alguns feitos com discrição, como o movimento que garantiu com que o Senado aprovasse, com apenas um voto contrário, a autorização de empréstimo de R$ 2 bilhões junto ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
A assinatura do contrato com a instituição financeira internacional com sede em Washington, nos EUA, está agendada para o próximo dia 15. O local ainda não foi divulgado. Este tipo de operação pode levar até 24 meses para o início da liberação do recurso, mas os aliados do prefeito garantem que o desembolso começará a acontecer em 11 meses. Com isso, João Campos vai poder investir em infraestrutura, saneamento e condições de habitabilidade. Não terá tempo suficiente para entregar todas as intervenções, mas terá projetos e obras em andamento para mostrar.
“Desses R$ 2 bilhões, pelo menos R$ 600 milhões serão investidos só em obras de encostas na periferia. A prefeitura vai realizar um obra estruturadora em 283 comunidades que têm pontos de risco dos níveis 3 e 4, os de maior ameaça. Outros R$ 300 milhões serão para a dragagem do Rio Tejipió, para enfrentar a questão dos alagamentos nos bairros da zona oeste do Recife”, conta, em reserva, um auxiliar da confiança de João Campos.
Para efeito de comparação, os R$ 2 bilhões que o município poderá tomar de empréstimo ao BID é um valor quatro vezes maior do que os R$ 500 milhões que foram investidos na construção da Via Mangue, um corredor viário de cinco quilômetros de extensão, que dá acesso à Zona Sul e demorou 10 anos para ficar pronta. “A diferença, neste caso, é que a gestão terá o que apresentar num intervalo bem mais curto e por vários pontos da cidade.”
João Campos e o PT
Eleito com o apoio do PSB e mais 11 partidos, numa coligação que lhe garantiu o maior tempo no programa eleitoral de rádio e TV (3min57seg dos 10min), o prefeito do Recife tem condições de repetir o cenário. Desta vez, com a novidade do Partido dos Trabalhadores indicando o nome para o cargo de vice. Em 2020, a legenda teve candidatura própria, com Marília Arraes. Para 2024, a tendência é que PSB e PT andem juntos desde o início, em função da aliança nacional que se formou em torno do presidente Lula para conter o bolsonarismo.
A negociação sobre o apoio do PT à reeleição de João Campos em 2024 passa também pelas eleições gerais de 2026 no Estado. Será o ano do término do mandato de senador de Humberto Costa, liderança petista do grupo majoritário da legenda, e este ponto precisará ser levado em consideração, avaliam integrantes das duas siglas. A relação entre PT e PSB é antiga, com momentos de maior ou menor proximidade e tensão. Petistas hoje ocupam duas secretarias na Prefeitura do Recife (Habitação e Meio Ambiente).
Fator Raquel Lyra
Com o prefeito já posicionado no tabuleiro da sucessão municipal de 2024, as atenções recaem sobre a governadora Raquel Lyra (PSDB). Nos bastidores, é grande a curiosidade sobre quais os caminhos ela pode tomar na capital pernambucana em início de governo, ciente de que pode ter o próprio João Campos como adversário em 2026, quando tentará a reeleição, a depender do resultado da eleição no Recife.
O primeiro cenário põe Raquel mais no centro do debate, com a postulação da vice-governadora Priscila Krause (Cidadania). Parlamentar por 18 anos, Priscila já disputou a Prefeitura do Recife em 2016, ficou em 4º lugar. Tem uma atuação reconhecida pela fiscalização das contas públicas das gestões do PSB. A única exigência legal para ser candidata a prefeita é não assumir o Governo do Estado nos 6 meses que antecedem o pleito de outubro de 2024.
Aos 45 anos, Priscila é casada e mãe de um casal de jovens. Também é filha de um ex-governador, Gustavo Krause, assim como João Campos, filho de Eduardo Campos, e Raquel Lyra, filha de João Lyra Neto.
O segundo cenário é uma aliança entre a governadora e o ex-prefeito de Jaboatão Anderson Ferreira (PL) em torno de um nome em comum, com a retribuição do apoio em 2026. A família Ferreira possui a indicação de espaços importantes do primeiro escalão do governo estadual, como a presidência do Detran e a Secretaria de Educação.
No primeiro cenário, na hipótese de uma derrota de Priscila, o insucesso também seria compartilhado por Raquel, em função da dobradinha que as tornaram as primeiras mulheres eleitas vice-governadora e governadora, respectivamente. No segundo cenário, o ônus seria debitado mais na conta dos Ferreira.
A extrema-direita no Recife
Além da possibilidade de uma candidatura majoritária do PL, o campo político identificado com o bolsonarismo pode ter também outra chapa no Recife, encabeçada pelo PP, com a intenção de preservar esta parcela do eleitorado. No 2º turno das eleições na capital pernambucana, Bolsonaro obteve 433 mil votos, 45% dos válidos.
Analistas de pesquisas de intenção de voto avaliam que, numa cidade como o Recife, as condições não são as melhores para postulações da extrema-direita, mas o bônus de disputar uma eleição majoritária na capital do estado compensa o risco de derrota e são vitais para manter “aquecido” o nome da figura pública. As vantagens vão desde o gerenciamento do milionário fundo eleitoral até a participação em debates, entrevistas e guia eleitoral e o aumento da base de seguidores e do engajamento nas redes sociais.
Estimulado pelos 1,320 milhão de votos que o deixou em um surpreendente segundo lugar na eleição para o senado no ano passado, o empresário e ex-ministro do Turismo Gilson Machado almeja ser o nome bolsonarista na disputa municipal. Para obter a indicação do seu partido, precisa primeiro vencer o clã Ferreira no embate interno.
Na outra ponta do espectro político, a federação PSOL-Rede Sustentabilidade caminha para ter candidatura própria em torno de um nome ainda a ser definido. A deputada estadual Dani Portela (PSOL) é a opção mais provável, caso se mantenha a atual correlação de forças no agrupamento das duas siglas.
*Jornalista com 19 anos de atuação profissional e especial interesse na política e em narrativas de garantia, defesa e promoção de Direitos Humanos e Segurança Cidadã.
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